This site uses cookies.
Some of these cookies are essential to the operation of the site,
while others help to improve your experience by providing insights into how the site is being used.
For more information, please see the ProZ.com privacy policy.
Mais do que palavras, ideias. Más que palabras, ideas. More than words, ideas.
Account type
Freelance translator and/or interpreter
Data security
This person has a SecurePRO™ card. Because this person is not a ProZ.com Plus subscriber, to view his or her SecurePRO™ card you must be a ProZ.com Business member or Plus subscriber.
Affiliations
This person is not affiliated with any business or Blue Board record at ProZ.com.
Portuguese to Spanish - Rates: 0.08 - 0.10 USD per word / 25 - 30 USD per hour Spanish to Portuguese - Rates: 0.08 - 0.10 USD per word / 25 - 30 USD per hour Spanish - Rates: 0.08 - 0.10 USD per word / 25 - 30 USD per hour Portuguese - Rates: 0.08 - 0.10 USD per word / 25 - 30 USD per hour Galician to Portuguese - Rates: 0.08 - 0.10 USD per word / 25 - 30 USD per hour
English to Portuguese - Rates: 0.08 - 0.10 USD per word / 25 - 30 USD per hour
More
Less
Blue Board entries made by this user
1 entry
Access to Blue Board comments is restricted for non-members. Click the outsourcer name to view the Blue Board record and see options for gaining access to this information.
Portuguese to Spanish: " El agujero" General field: Art/Literary Detailed field: Poetry & Literature
Source text - Portuguese "O Buraco" ou "Eu Odeio Fígado"
Introdução
O personagem começa a cena sentado à beira de um enorme buraco no centro do palco e vai contracenar o tempo todo com este único objeto: a ausência de um chão. ao redor do buraco algumas possibilidades confortáveis como uma corda, para subir, escapar ou pairar perigosamente sobre o abismo, ou uma cadeira, para ficar ali, descansado, olhando para o buraco, ou, então, pás e areia, que permitiriam que ele tentasse cobrir o buraco. O personagem vai brincar o tempo todo com as possibilidades que ele tem e falar do passado, de quando ali, naquele lugar, ele teve a melhor das vidas, até que um dia, ao acordar, topou com aquela "singularidade" no meio de sua vida: a pessoa que ele amava, Jan, havido ido embora após 10 anos de convívio, deixando apenas aquele enorme vazio.
"O Buraco" ou "Eu Odeio Fígado"
Ah, ótimo!
Mas por que esse cara não deixa nada sem comentário? Sem marcas e remarcas? Eu podia ter ficado muito mais feliz sem ter de comentar o buraco que apareceu aqui; Um dia acordei e minha vida tinha mudado: não havia o mesmo chão. Por que eu não deixo intacto a paisagem por onde passo, não limpo qualquer vestígio de minha trajetória pelos caminhos-tão-bonitinhos-que-pedem-que-não-os-toquemos-para-que-não-deixem-de-ter-encantos? Se eu não falasse desse buraco, ninguém saberia sequer que ele existiu; algum amigo perdido, sem saber perguntaria um dia:
- Como está Jan?
E eu responderia:
- Foi embora, levou tudo o que eu tinha, tudo o que eu quis, tudo o que eu pensei que era a minha vida, casa, família, tudo.
Mas deixou algo que é o brinquedo maior que eu tenho para me distrair agora: um enorme abismo, um buraco enorme em minha vida, de onde eu não consigo me afastar!
Por que não atravesso o abismo como atravesso a rua? Por que fico distraído com seu tamanho, profundidade? Por que olho para os dois lados depois da ponte improvisada ultrapassada sobre o abismo e volto e repasso tudo outra vez, enchendo de pegadas a fina camada de poeira que cobria a ponte? Por que eu vejo, revejo e como, vomito, remendo e estrago tudo?
Por que não podemos deixar o abismo como foi encontrado, a destruição como está e o profundo sem iluminação?
Por que vasculho ao redor em busca de sujeira os pequenos enfeites que encontro pela beira da existência? Por que interajo com os barrancos do abismo? Por que o abismo é como uma coceira incômoda que não conseguimos parar de coçar?
Pois é, terminei mal... Agora somos quase todos velhos. Envelhecemos. Muito. Como já estou na velhice há muito mais tempo - desde dezembro de um ano qualquer - posso garantir que tudo vai piorar agora. No dia seguinte ao meu abismo, quando Jan foi embora e deixou esse vácuo gigantesco, a legião de mulheres que costumam me acompanhar em orgias, em meus pensamentos, abandonou minha imaginação, sem muitas desculpas; meu cabelo caiu às centenas; uma obturação caiu, e depois outros males piores à boca vieram. Por já estar na idade errada, meu dentista disse que não valia a pena tratar disso. Buracos... a vida é feita de buracos, uns pequenos, outros grandes... Noutras partes a devastação prossegue e o médico me dá remédios mais caros e que curam menos. As dores são maiores e os amigos mais distantes.
Ah, mas tem seu lado positivo, claro. Bom, a memória me falha agora, mas tenho quase certeza que tinha algo bom guardado para esse momento.
A vida começa num buraco. Não há nada que um sexo ofereça ao outro que não seja uma variação de buracos gostosos, quentes, alucinantes, molhados, gostosos, alguns em locais distantes, não alcançáveis, outros ali, na ponta dos dedos, ao alcance da mão, da língua, do nariz, do queixo, do umbigo, do pé, cotovelo, sei lá... nem sei do que estou falando.
Para mim falar sobre si mesmo é como tirar a roupa, é algo que é quase uma violência... é difícil tirar a roupa na frente de um amigo, de um novo amor ou do médico; isso sempre precisa de tempo, de amadurecimento, de vontade, de necessidade.
Ao usarmos metáforas, texto, poesia, para nos comunicar, estamos fazendo um "contorno" ao problema: estamos nos expondo sem tirar (totalmente) a roupa, estamos nos desnudando mas mantendo vestes semi-transparentes sobre nós, que nos mostra sem que nos vejam; a luz fraca, a semi-escuridão ajuda ainda mais nessa auto-proteção.
Não é fácil subir numa mesa e fazer strip-tease, mesmo por uma louca paixão; nem necessário talvez; só o tempo e a intimidade permitem isso.
Embora a nudez diante de um amigo tenha o mesmo caráter de uma nudez diante de um médico, isso não diminui a transgressão do fato e nem eu iria querer uma coisas dessas; quero amar um amigo acima disso e não precisar jamais que isso aconteça, mas que, se acontecer, não haja embaraço.
Metáforas... eu odeio fígado... odeio fígado mesmo. Acho que a vida é como fígado... algumas pessoas adoram, outras detestam... as pessoas nascem odiando ou adorando fígado... é uma questão de sorte... ou azar.
Jan odiava fígado também... mas um dia, com vergonha de recusar o prato, comeu fígado em um almoço na casa de conhecidos. Que nojo!
Monteiro Lobato tem um conto em que um personagem odeia fígado. Eu adoro Monteiro Lobato por isso.
O personagem que ele criou, tem de participar de um banquete em que o prato principal é fígado... Ele tem de engolir aquilo, cidade pequena, não teve coragem de dizer não... ele divide a carne em dois pedaços e os engole logo, para não ter de sentir o gosto... A dona da casa, pensando que ele havia gostado muito, o serve outra vez. Incapaz de repetir a façanha, ele esconde o fígado no bolso. Tudo bem, até agora, exceto que ele vai esquecer do pedaço de carne em seu bolso até a hora em que, ao declamar alguns versos, o suor lhe vem à testa e ele puxa o lenço do bolso fazendo o bife voar de seu esconderijo. O personagem foge da cidade, cheio de vergonha, com a fama de adorar tanto fígado que era incapaz comer sem também esconder alguns nacos da iguaria nos bolsos.
A vida é assim, algumas pessoas preferem engolir o fígado que oferecem pra elas. Outras escondem no bolso. Algumas fazem as duas coisas.
A vida é um fígado. Ou um buraco? Bom, na minha vida têm um grande buraco. Um bolso é um buraco, não é?.
Uma boca é um buraco. Tudo começa com um beijo, não é?
E todos nascemos 9 meses depois saindo de um buraco. Buracão!
Não sei se o que eu faço aqui é arte ou ciência. Não estou estudando buracos. Estou me aprimorando na arte de conviver com um. Este!
Ah, Toquei num ponto interessante, ao falar de arte e ciência, esqueci de dizer que vivemos na cultura do culto ao buraco. Nem percebemos, é universal. É histórico. Tem raiz. A "história" tem importância em relação a todas as tendências culturais e artísticas, que também tem um relacionamento com a ciência. Tudo está relacionado com tudo. Estou aqui, pertinho, olhando, vendo o que posso fazer. Quem sabe viro um grande herói? A pessoa mais importante da história: aquele que descobriu como conviver pacificamente com os buracos.
Sou bastante sensível ao que acontece, embora eu adore ver futebol americano pela TV e gritar por cada ponto conquistado. Sou bastante sensível para certas coisas, tenho um olhar "diferente" do que a maioria das pessoas, uma percepção diferente. Mas isso não é bom, a tendência das pessoas, apesar de - quase sempre - reclamarem da insensibilidade humana, é perceber tal sensibilidade como fraqueza, não como qualidade. Na "hora H" parece que o que conta mais é ser um idiota. O que conta é ser parecido com as pessoas de comportamento que eu mantenho distâncias.
Jan, no início, se admirava diante destas qualidades; mas na hora da separação, final de casamento de 10 anos, isso foi, na visão de Jan, um peso: "uma fraqueza". Algo que eu não deveria ter, pelo menos foi o que Jan deu a entender.
Por aqui, a fato de ser separado ou não nunca foi importante, do ponto-de-vista institucional: fiquei casado 10 anos, mas nunca "legalmente" casado, sempre fomos diferentes quanto a isso, não nos importar com as regras "dos outros". Mas é justamente por termos tanta afinidade que a separação é um peso, é difícil entender como 2 pessoas que se dão tão bem precisem ficar separados para ficar bem. Acho que a escolha de Jan estava certa. É triste, mas casamentos, por melhor que as pessoas tenham sido escolhidas, não durarão para sempre.
Mas é isso, começar tudo de novo, ter coisas para fazer, coisas para cuidar, parece que está sendo bom para mim. Se eu soubesse que seria assim teria vindo morar sozinho mais cedo, perdi muito tempo "sem vontade" de enfrentar isso, preferi ficar um ano jogado pelo mundo. Saí por aí para ficar algumas semanas fora e fiquei um ano sem estar em nenhum lugar. Depois de vir para cá, mesmo com o abismo disponível desde a minha separação. Mais um ano parado!
Acho que cada um procura as soluções a seu jeito, essas coisas traumáticas não tem fórmula, são difíceis de atravessar.
Lembrei de outra história de fígado: Prometeu acorrentado, que roubou o fogo dos deuses para entregá-lo aos homens. Na mitologia, Prometeu foi punido tendo sido acorrentado e tendo seu fígado comido diariamente por uma ave, a punição era eterna, o fígado comido regenerava-se continuamente. Na minha visão da lenda, Prometeu não é quem recebe a grande punição. O maior punido dessa história é a ave que, não tendo nada a ver com o crime, recebe o castigo de comer fígado pela eternidade.
Tem coisas piores do que fígado?
Tem coisas piores do que a solidão: separação!
Gostar de alguém e ser deixado, quando ainda a relação entre os dois é forte, ou, pelo menos, para o que é deixado, como no meu caso, é muito pesado, difícil de agüentar. Acho que o trabalho é um fardo, por não sentir ter apoio, aquilo de voltar pra casa e encontrar, esperar alguém, mas, por outro lado, ajuda a distrair os sentimentos, a sensação de pedaço faltando.
Lembranças: também tenho guardado tudo o que posso da Jan, foram 10 anos perfeitos, impossível aceitar que um dia tivesse de acabar. Acho que é uma coisa que eu não vou entender nunca, como alguém que você conhece pode ter uma visão tão diferente dos mesmos fatos. Mas tudo bem, acho que faz parte. Mas um amor tão especial, tão cheio de felicidade dá uma sensação de que jamais encontrarei outra pessoa como Jan, mesmo que eu volte a ser feliz, acho que não encontrarei jamais alguém que me complete como Jan fazia.
Ás vezes penso em estudar outros buracos, tenho muitas barreiras para falar e escrever sobre eles, embora veja os buracos como um técnico, sem o menor problema e consiga entender razoavelmente bem. Mas, sei lá, parece que não saio do lugar, estudo um semestre, paro, volto a fazer o mesmo nível em outro buraco e assim vai... não tenho vontade de ficar noutros buracos, nas mesmas coisas... agora, com toda essa tristeza é que não quero estudar outro buraco mesmo, embora talvez fosse uma boa coisa pra fazer.
Bom, é isso.
É difícil entender a vida.
Tenho amigos, tenho programas, saio para encontrar pessoas na mesma situação. Já há meses... Nesta semana, uma dessas pessoas começou a querer algum tipo de envolvimento. ou, talvez, sondar a possibilidade. Eu, com muito cuidado, tentei explicar que não me sentia atraído, que não tinha nada a ver com ela... mas não fui muito feliz, ela acabou ficando irritada e brigou comigo. É com essas pessoas que acabo tendo contatos mais freqüentes, pessoas que eu chamaria de "amigas". São elas, ao mesmo tempo, que insistem que devo esquecer, que devo partir para outra, que ficar parado é pior. Foi por isso que acabei namorando por correspondência, participando de encontro às escuras com amigos de amigos... Como algumas das pessoas que eu conheço são de fora do meu caminho, isso dificulta a possibilidade de encontros, de sair, de conhecer "de verdade". Na prática, não está dando certo... Continuo preferindo ficar estudando buracos e trocar informações sobre isso com outras pessoas do que sair com elas. Fico dividido, alguma coisa me impele a procurar companhia, mas outra força me leva sempre a arranjar motivos para ficar aqui, para não me envolver, para evitar contatos "reais". Não sei se eu vou vencer essa barreira, atravessar esse abismo, mas acho que contatos com pessoas tem me feito pensar mais no assunto. Se, um dia, uma dessas forças vai vencer dentro de mim, é difícil de definir ainda.
Acho que o caminho à beira do abismo é longo e espinhento, cheio de voltas e reviravoltas, por isso teimo em carregar minhas coisas: mas é só para os casos de emergência... lanterna, corda, sapato com pregos... espero que esta terapia dê resultados um dia.
Apesar de estar separado há mais de um ano e ter muitas dificuldades em esquecer o trauma, a questão é que está sendo difícil "voltar ao normal". Ninguém quer ficar sozinho, mas alguns (como no meu caso), quando estão neste meu estado, podem ficar meio achando tudo sem graça e sem vontade de voltar a ter algum tipo de relacionamento... Olha, já tentei pegar uma pá e jogar terra sobre o assunto. Depois joguei mais terra e mais e mais e mais, não fez a menor diferença, esse buraco não tem fundo. Nunca, mas nunca mesmo, ele vai estar coberto.
Não estou misturando essa vontade, esse sentimento de saber que é impossível terminar com esse abismo, com a consciência de que não posso ficar assim pra sempre. Por isso minha tentativa de conhecer novas pessoas, embora sem intenção de um relacionamento maior do que estudo de buracos, a princípio. Ser feliz não é um objetivo claro, em alguns momentos, parece que tanto faz o que vier a acontecer... Depois, como neste instante, as coisas mudam e fico achando que devo tomar alguma atitude... e assim vai, oscilando entre um e outro estado. Às vezes atravesso o abismo... mas olho para trás e o abismo continua lá e eu ainda estou na beira dele, precisando atravessar para o outro lado. Não fez a menor diferença o trabalho de atravessar.
Pegar na enxada e na pá me fez lembrar o quanto acabo envolvido com o trabalho quando estou em período de pesquisa... Às vezes porque preciso, as vezes sem perceber, tenho a tendência a ficar imerso no buraco e estar sempre procurando assuntos relativos a ele.
Começo a ver algumas vantagens em ficar sozinho, pequenas coisinhas que eu tinha deixado de fazer, por escolha própria, a maioria: agora posso voltar a incorporar no meu jeito de ser. Ontem, por exemplo, saí para ir ver um jogo na televisão... é um avanço!
Tenho altos e baixos nessa "fase de recuperação", as vezes estou feliz de estar sozinho, as vezes me sinto vazio e sem vontade de fazer nada, bastante triste. Depois me recupero e assim vai: faz parte do processo de tapar buracos, suponho
Estar atrás de uma paixão, todos nós estamos, mesmo quando não estamos, né? O problema é quando a paixão acaba... ou quando não sentimos mais vontade de procurar por uma.
Fico oscilando entre querer mudar minha vida e voltar à anterior, é sempre um grande problema tudo, essas decisões todas, não conseguir saber o que é melhor para mim... de qualquer forma, quando estou aqui, é quando estou feliz ao máximo; mas quando estou aqui, é que penso em ter companhia para fazer alguma coisa além do que ficar aqui.
Fico me sentindo no dever de decidir, mas, ao mesmo tempo, um medo de tomar iniciativas que me levem a caminhos definitivos. Que bobagem, né? É um medo, eu sei que posso dominar a situação se eu quiser, mas o medo, pequeno, está sempre lá. Tenho medo de ficar longe de minhas coisas, mas também tenho medo de ficar sozinho e, mesmo percebendo que são medos imaginários, que tais coisas não são incompatíveis, sei lá o que acontece... não consigo sair desse impasse.
Talvez a situação de separação não seja compatível com ser uma pessoa feliz, mas, fazer o que? Não me parece que seja assim, mas, ao mesmo tempo, seria uma explicação para o que acontece dentro de mim. Indefinição.
Tem tantas coisas que poderiam ser mais simples se eu não precisasse pesar, pensar, refletir, medir... não consigo escapar disso. Ah, sei lá.
Já tive outros buracos em minha vida... a última vez tinha sido há mais de doze anos, quando eu tinha sérios problemas e tinha crises que me faziam pensar que a auto-destruição era a única saída. De alguma forma, ter cavado meu próprio buraco naquela época garantiu minha sobrevivência mais recentemente, após a separação. A separação foi o buraco mais profundo que eu já vi e, mesmo assim, nenhum pensamento *ruim* me passou pela cabeça. Nunca tentei pular lá dentro. Ah, pensei em me jogar lá dentro, acabar com tudo, sim, mas não de maneira séria, se eu quisesse teria feito isso. Foram em alguns dias meio ruins. Sinto que avanço - devagar, mas "em frente".
Ontem eu estava escrevendo sobre buracos e me passou pela cabeça uma observação interessante, que era sobre eu passar uma idéia, para os outros, de que adoro o que eu faço. Verdade, às vezes eu nem noto, mas o trabalho de pesquisar as profundezas é muito divertido, apesar das cavernas terrivelmente quentes em que tenho trabalhado. Detesto ter de lidar com o calor. Sinto um prazer muito grande quando tenho um barranco que me faz chegar a novas descobertas: acho que sou meio bobalhão, adoro pesquisar isso! Claro que o ideal é poder viver, também, mas numa relação entre explorador e abismo, ao invés de "achar" vida lá fora, o mais comum é re-encontrar aqui dentro algo para fazer.
Acho que vou tomar banho, estou precisando, trabalhei muito hoje!
Com Jan, eu queria que fizéssemos tudo juntos, mas Jan não queria, dizia que não precisava, que eu é que estava arranjando coisas para fazer, que eu é que tinha de procurar... chato, não é? Depois da separação ela foi fazer o que bem quis, sem a minha presença.
É, acho que preciso de um banho, hoje marcava 41 graus no termômetro que eu coloquei lá em baixo, não dá para ver daqui. Tive de trabalhar numa sauna outra vez, mas é ótimo estar lá embaixo, mesmo que eu fique desidratado...
A sensação de falar para as paredes: às vezes falo com elas... Ora, algumas paredes são quentinhas e vale a pena encostar-se nelas, acho que eu gosto, por mais parece que eu possa parecer. Mas acho que isso deve ser complicado mesmo, tem muitas coisas que aconteceram que me deixaram chateado nos últimos dias, por mais habilidade que eu tivesse em contornar os problemas, não dá pra dizer que tudo tenha ficado bem a ponto de tomar uma decisão tranqüila sobre o meu futuro. Acho que preferi optar pelo esconder diante do desafio.
Por que paredes? A sensação de um afastamento é real, isso realmente aconteceu, mas foi uma espécie de jogo de medos que sempre podem ser interpretados como uma "fuga". É por causa de nossos pequenos "medos" que agimos de tal forma. Isso aconteceu, mas mais assim como um teste: eu tinha expectativas diversas que não foram atendidas na minha pesquisa aqui e isso foi gerando uma certa insegurança... Não pensem que a decisão de ficar aqui foi fácil, o medo batia o tempo todo. Por mais racional que eu tente ser eu preciso dizer a mim mesmo o tempo todo: "é só uma visita, vai ficar tudo bem", repetido muitas vezes, sem parar para que disfarce o pânico que talvez eu nunca mais volte. O que passa lá dentro e que não podemos admitir é: será que eu vou sair? Será que eu vou rever a luz? Isso pode ir crescendo e ficar maior do que o que podemos calcular.
Jeito meu: ficar neutro numa decisão. Sou racional e pareço frio, nessas horas: engano, a visão de parede que temos não chega perto da realidade, só o tato, a proximidade pode dar o verdadeiro conhecimento. Algumas paredes são quentinhas, mesmo que a aparência delas seja de sombra e frio... ser neutro tem a ver com ciência, não com frieza. Sei que as pessoas têm dificuldades para perceber que sou comum...
Ninguém conhece mais o valor das pequenas coisas do que eu... algumas até carrego comigo... qualquer dia eu mostro pra vocês...
Sobre o meu casamento, só tenho a dizer que tentei de tudo, ser rebelde, ser paciente, ser eu mesmo, ser outra pessoa - o companheiro ideal na visão do outro nem sempre é aquilo que você é ao natural - então o que sei é: se alguém não te ama mais não adianta fazer das tripas coração, não há mais nada para fazer. E não acredito nessa história que foi algo que eu fiz, ou deixei de fazer, que fez Jan deixar de gostar de mim. As pessoas podem deixar de gostar de alguém independente do que elas fazem ou não, porque, pelo outro lado, também é verdade que as pessoas podem te amar pelo que você faz ou não. Jan, ao se separar da minha vida, após a confusão ter se dissipado e ter parado de pôr a culpa em mim por não ter mais paixão para sentir, me disse:
- Eu sei que nunca vou encontrar alguém como tu. Foste perfeito, mas não consigo viver sem paixão e não tenho mais paixão no meu corpo... vou me arrepender de ficar longe de ti, não existe ninguém parecido, mas é melhor viver longe de alguém perfeito do que viver com ele sem existir uma paixão que justifique a convivência.
Isso justifica, segundo Jan, o fim de um casamento, mas não o fim de uma amizade, para nos manter longe um do outro, Jan tem outros motivos: Me disse que não me quer por perto porque tem medo de não resistir ao meu carinho. Jan não me quer por perto sabendo que eu ainda tenho esses sentimentos todos. Jan ainda me quer bem e não me quer sofrendo, mas não pode fazer nada. Então, o abismo nos separou, nem amigos poderemos ser, pois dificilmente vou deixar de amar Jan.
Não posso reclamar, quando vejo casamentos em que cada parceiro reclama um do outro, acho que, desgraça por desgraça, a minha não é das piores: o que sempre busquei, foi o reconhecimento de que eu estava fazendo o que podia... Jan reconhece isso, então... é isso.
Ah, não sei nada mesmo.
Ah, tipo assim... todo mundo sabe que o Sócrates, filósofo grego, não deixou nada escrito, mas há uma frase dele que alguém lembrou de deixar pra história que é: "tudo o que sei é que nada sei".
Ou, se preferir, na minha versão atualizada para os dias de hoje, já que não consigo copiar nada sem alterar um pouco: "Tudo o que sei, é que sei menos que o Sócrates".
Deixaram a frase do homem intocada por 2500 anos e eu venho aqui e altero ela... o mundo deve estar mesmo meio esquisito!
Mas tudo isso, era só pra dizer que não sei de nada, não afirmo nada, não ponho a mão no fogo por nada e quem quiser acreditar, faça-o por sua própria conta e risco.
O fato de gostar não quer dizer que não possamos analisar, esmiuçar, estudar, dissecar, destacar... bom, faço isso com pessoas, com filmes, com poesias, acho que posso fazer isso com os pontos que gosto e os que não gosto...
Acho que não fecharemos abismo nenhum nunca... sempre que lembrarmos de algo, voltaremos a eles!
Eu fazia isso, às vezes: mergulhava em filmes... por alguns anos foi minha principal diversão! Mas, sei lá, o tempo passa, o problema da impossibilidade de ler, ver, comer tudo... isso é bem complicado!
Agora estou vendo pouca coisa, não ter com quem comentar é muito ruim... buraco.
Quando a gente fica meio assim, meio sozinho me dá um vazio...
Ontem eu não estava bem... não por alguma causa, mas eu não estava bem, estava triste. Mas ninguém entende, acham que eu estou me fazendo de vítima, cavando meu próprio buraco.
Até quis sair, tava me sentindo pior, só queria um "oi", uma esperança, mas... Estou aqui, não comi direito o dia todo, eu não dormi nada de madrugada, dormi no meio do banho, outra hora... Estou cansado.
Lembro de uma briga... Eu precisava de carinho, talvez fosse hora errada, sei lá.
Mas tudo bem, fico ouvindo música aqui, então fico melhor, estou bem, quero que todo mundo fique bem também, mesmo que ninguém me entenda, eu quero todo mundo bem e sempre vou querer bem...
Sinto falta de estar "ligado" a alguém... mesmo sem falar com pessoas, saber que a alguém está bem é tão bom, sei lá.
A distância faz isso, acho... então vem cá, fica pertinho de mim, me dá um colo, vai... tô precisando. Tô pedindo, não precisa me perdoar, não precisa me desculpar, só estou meio sozinho.
Sempre que começo a falar isso começo a chorar, por que será? Tô cansado de ser chorão, queria que isso já tivesse passado: queria brigar com alguém e ficar furioso, não triste! Será que eu fico triste porque não brigo com ninguém ou não brigo porque estou triste?
Às vezes vejo algumas pessoas que não estão bem, vou lá bater nelas, e depois eles tem toda razão em pensar mal de mim, na hora não penso direito, vejo aquele buraco de nada e fico com raiva, acho desaforo ficar triste por causa de poças d'água, porque eu tenho esse vazio enorme e outras pessoas tem apenas uma leve depressão em suas vidas? Então, na hora, não levo a sério, assim não dá, não é?
Às vezes preciso de ajuda e preferem não levar a sério meu pedido de socorro, preferem achar que é outra coisa. Mas tudo bem, não tô tão mal assim, tava mal há um tempo atrás quando uma menina veio e me tirou da escuridão, então não me importo quando às vezes não quiserem me ajudar, acho que eu to explorando cavernas para ficar bem, não é obrigação de ninguém ficar disponível, como se fosse um anjo da guarda em tempo integral.
É tão ruim estar instável, quando eu estava casado eu gostava mais de mim. Fazer o que, não é?
Bom, acho que eu não me sinto seguro, tem certas coisas que dizendo mexem aqui dentro, me deixam confuso.
Quando eu vi Jan pela primeira vez eu fiquei sentindo uma força, sentindo uma coisa, não conseguia parar de olhar. Conheci outras pessoas assim. Engraçado, sinto uma coisa parecida por outras pessoas, às vezes. Não vou mentir que já não senti isso por outras pessoas, mas foram poucas. Queria encontrar alguém e sentir o mesmo, sei lá. Isso é muito doloroso. Tenho medo de não ter mais isso. Eta! Não posso chorar, tenho muita coisas para fazer hoje.
Depois de conhecer a Jan, em 6 meses estávamos casados. Fico sempre pensando que foi a melhor coisa que fiz na vida, mas escuto sempre as vozes das pessoas dizendo que foi bobagem fazer isso, que tão rápido assim não ia dar em nada. Não queria ter essa dúvida, faz me sentir culpado. Droga, vou ter de falar de outra coisa, não posso chorar.
Acho que vou trocar a música que está tocando por outra, daí não tenho tanta vontade de chorar... Esperem aí... Nem lembro porque eu estava dizendo tudo isso.
Queria encontra alguém para poder dizer:
- Sinto tua falta. Fica comigo? Te amo, te amo muito...
Tudo é bom e ruim ao mesmo tempo. Estou conhecendo pessoas, depois a gente se afasta como sempre acontece, forças maiores interferem... mas ainda tenho uma longa jornada junto à alguém, está sendo divertido.
Esses dias encontrei uma pessoas especial: amizade ainda vai salvar a minha vida...
Eu sei, tudo acaba um dia, então se não conhecermos um ao outro, pulamos esse trauma; Mas a jornada solitária é sem graça, ou, pelo menos, menos divertida do que acompanhado de alguém que tem algo pra dizer. Mesmo que o outro desça na próxima parada, é melhor o passeio com alguma companhia.
Tem coisa que, puxa, são meio chatas de dizer sem a gente conhecer bem para quem fala...
Uma vez uma amiga me perguntou se eu tive vários casos ao mesmo tempo... a resposta foi:
- Sim, tive várias amores ao mesmo tempo, certa época, uma delas foi Jan. Aconteceu de estar com duas pessoas na mesma casa, mas não no mesmo quarto, quer dizer, não estava fazendo nada obsceno - maneira delicada de dizer que eu não estava transando com duas pessoas ao mesmo tempo.
Todas pessoas que estavam comigo, nessa época, sabiam umas das outras e eram avisadas que eu não pretendia "me livrar" das anteriores. Mas Jan expulsou todas uma a uma, não diretamente, mas foi dando um jeito de me deixar sempre ocupado até dar um basta... tive de escolher entre Jan e as outras pessoas. Sempre tive a sensação de ter feito a melhor troca da minha vida, mas agora, diante da separação, não tenho muita certeza do que é certo, melhor, bom ou qualquer coisa assim.... Estou tentando manter a mente aberta, e não ter moral, mas é claro (ficou claro, na época) que ter muitos relacionamentos ao mesmo tempo era sinal de não gostar de nenhuma pessoa tanto quanto eu pensava que gostava.
Atualmente, saio com uma pessoa desconhecida a cada 15 dias, em busca de alguma coisa que eu nem sei o que é, quase uma busca mágica, achando que quando encontrar, vou saber o que eu procurava. Mas não vejo nenhuma pessoa por mais do que um encontro...
Quanto tempo uma tempestade pode durar? Uma tempestade pode durar.. sei lá... até 40 dias e 40 noites? O que é uma crise? Depois da tempestade ficamos mais fortes?
O que resiste a uma tempestade talvez não fique necessariamente mais forte: pode ser ilusão causada pelo tempo bom. Durante a tempestade a sensação de que a situação poderia acabar mal pode fazer com que, com a melhora do tempo, nossas expectativas sobre a sobrevivência sejam muito grandes... fica difícil medir com certeza. Isso é tudo um "talvez": estou apenas fazendo conjecturas sem maiores preocupações em relacionar isso com algo concreto.
Não sou "bom", "bonito" ou o que quer que seja, sou apenas eu mesmo, não há valor nisso: é como ser "inteligente", ou "baixinho" ou "narigudo", não faço de propósito. Aliás, se precisasse ser mais inteligente do que já sou, como às vezes a vida exige, também eu não poderia fazer nada, não sou inteligente ou burro porque quero, mas porque algo (biológico, social ou espiritual) maior do que eu me fez assim. Claro que o contrário pode acontecer, algumas pessoas querem (ou gostam) de ser burras... mas difícil julgar onde fica o livre arbítrio diante de tudo isso. Somos o que somos ou somos o que queremos ser? Se somos o que queremos ser, o que determina o nosso "querer" ser assim? Quando estou cercado de pessoas mais inteligentes do que eu fico pensando muito nisso, sobre não poder ser mais do que eu sou e eles não poderem ser menos do que são.
De qualquer maneira, diante disto, fica difícil decidir até quando ser bom: apenas ser até que não se possa mais ser ou ser enquanto não estamos sendo machucados por isso? Mas dá pra ser tão racional na hora de escolher? Acho que não, talvez até possa fazer isso de maneira consciente e dar um basta quando isto pode estar me machucando, mas, de modo geral, não lembro nunca de pensar nesta possibilidade, como eu dizia: sou o que sou, sem querer.
Ah, mas pra ser justo tem de ver também o outro lado: também sou egoísta.
Bom, estou numa fase muito instável, o que reflete diretamente nos meus relacionamentos: brigo com todo mundo, até com minha sombra. Turbulência, como eu tinha nomeado há alguns dias atrás quando explicava o que acontecia comigo para outra pessoa. Tempestade.
Acho que eu gosto de pintar a mim mesmo de tons mais bonitos do que os reais. Acho que sem as cores, o que eu tenho dentro me parece feio, cru e destruidor para as pessoas, de modos que nestas fases em que estou muito sem a fina capa protetora de óleo, há muito atrito.
As pessoas têm isso: se você foi a vida toda brigão, as pessoas não ligam muito para mais uma briga. Mas se, pelo contrário, você foi de alguma forma cordial e atencioso, nestas fases de "briga", o que as pessoas gostam de ver é: egoísmo, má-fé, maldade, má-intenção, agressão.
Acho isso muito injusto, que eu não possa ter meus curtos períodos de depressão, de fossa ou, como às vezes, de ausência de meias-palavras, de lubrificante, de tato.
Como pessoa sem pele, percebo que a visão que as pessoas têm de mim é nojenta e entendo a necessidade de distância; também quero distância, não quero que me vejam assim e me achem feio.
Mas não sou feio, como também antes, com pele, não era bonito: o que elas não podem ver acima das próprias sensações de nojo, é que esta visão delas não é imparcial e que, principalmente, o asco delas me fere demais.
Sexta-feira saí com uma pessoa que me disse em um certo instante:
- Eu poderia ter feito uma descrição horrível de mim e talvez não estivéssemos aqui.
Essa pessoa estava se referindo a uma enorme cicatriz no rosto que eu nem havia percebido que estava lá, fruto de um acidente de carro de quase 20 anos atrás, onde mais de 100 pontos haviam sido necessários para reconstruir aquela face.
Minha incapacidade de perceber detalhes só não é pior do que a minha capacidade de ler sinais e de entender formas alienígenas de comunicação.
É bom conhecer novas pessoas.
Não sei bem para onde estou indo, quando entro no abismo, mas sei que as pessoas não gostam e que não querem ir junto.
Seja lá o que eu disse no passado, quando fiquei isolado lá embaixo, a falta de pele deve ter sido um grande espetáculo. Me chamaram para fora da caverna e agora acham que sou horrível; o que isto quer dizer? Quer dizer que não me escutaram, que não ouviram meu pedido para ficar sozinho, que acharam que eu estava sendo egoísta? Não entendo nada. Se me querem como estou, me amem como me mostro, se não querem, então me deixem só, porque em essência talvez eu sempre tenha sido um monstro só.
Ontem uma pessoa me mandou uma mensagem muito desaforada sobre minhas atitudes; levou meu mergulho no abismo para o lado da ofensa pessoal. Depois acha que minhas brincadeiras estúpidas são uma grande ofensa, também briguei com outra pessoa que acha que tentar demonstrar qualquer coisa além do meu comportamento usual é reprovável, é um tipo de crime que eu nem sabia que existia.
Estou desabafando demais, né? Desculpem, é que estou muito sozinho neste instante.
Mas estou aqui, talvez sendo meio agressivo, violento para as pessoas, mas quero que olhem para dentro, bem dentro de mim e vejam que abrir o coração não é exatamente uma forma de agressão como tende a ser interpretado.
Bom, alguém tinha dúvidas sobre o que eu falei? sobre a forma? sobre o conteúdo? sobre partes específicas ou sobre o geral? Pelo menos ainda não perdi a estranha mania de querer explicar tudo até onde puder, então aproveitem, adoro saciar dúvidas. É só o que tem me sobrado pra dizer.
E desculpem se a linguagem está crua/direta, ok? Não sei se devo me desculpar, mas como cada vez que eu me comunico com alguém sou mal interpretado e agredido, melhor me precaver, estou cansado de apanhar...
Não sei mais o que é certo ou o que é justo, mas é bom saber que alguém, em algum lugar, pensa como a estamos pensando, que existe esperança, pra depois da tempestade, vai haver um porto seguro e as pessoas vão se encontrar e confraternizar. É bom não ter sido bombardeado como inimigo porque fui longe demais e as pessoas não reconhecem mais minha nave.
Se eu for pensar que não tenho amigo nenhum, vou ficar tão mal que é melhor não voltar meus pensamentos nesta direção: melhor pensar que eles não são capazes de compreender a gente suficientemente bem do que pensar que eles não são amigos.
O que acontece comigo? Nada além do que sempre tem acontecido: um vazio. Estar separado é uma barra pesada demais. Se eu não tivesse nada para, de vez em quando, iluminar minha vida, não sei se eu estaria aqui, se eu teria forças para ficar aqui. A vida perdeu a graça quando perdi algo que eu pensava ser eterno; estou cansado de ouvir "a vida continua". Talvez ficar com raiva de tudo seja meu modo de levar as coisas, sei lá... só penso na injustiça que é tudo isso, não sei de quem é a culpa de termos expectativas altas na vida, mas elas estão lá, descobrir que as coisas nunca mais vão ser como esperava é algo quase impossível de encarar.
Possivelmente eu esteja no lugar errado e na hora errada, mas isso seria fácil de resolver se as pessoas deixassem eu simplesmente ser o que eu preciso ou quero ser neste instante. Estou cercado de pessoas que não entendem isso, então melhor ficar só. Nesta luta, inocentes acabam se machucando: sou como um elefante, uma baleia, não posso recuar e ir embora sem deixar algum tipo de enorme vazio, incômodo, talvez, mas real. As pessoas precisam entender, se quiserem alguma chance de um relacionamento duradouro, que as coisas não são fáceis aqui dentro. Tenho um abismo para levar comigo aonde quer que eu vá.
Esses dias li uma mensagem de uma amiga que dizia, num primor de candura:
- Você é uma pessoa querida por mim, eu vou te perturbar sempre que eu quiser não importando a situação...
A verdade é que estávamos em uma certa sintonia porque nos conhecêramos há pouco e, ao contrário de pessoas que conheci há mais tempo, não senti, como senti das outras, ela me batendo para que eu voltasse ao normal. Sinto que estou sendo tratado, pelos outros, como um "possuído" em plena idade média, uma sessão de tortura em cima de outra, tudo para o meu bem... não quero isso. Esperava que essa pessoa fosse diferente. Mas o que eu queria das outras pessoas é essa abertura para me ouvir, para ver o que tenho a dizer, ao invés de ter que ouvir o tempo todo que estou errado, que meu jeito é errado, que o tom é errado, que o conteúdo é errado, que a forma é errada. Não quero que concordem comigo, só não quero ser massacrado.
Comunicação é uma tarefa difícil, como saber se o que interpretamos é realmente o que foi intencionalmente escrito?
Tenho saudade de ver televisão no final de noite com a pessoa que escolhi para passar o resto dos meus dias ao meu lado. Será que é tão difícil para os outros entender que não posso estar *estável* como eles exigem? Não estou pronto para ter de discutir paixões imaginárias nem nada efêmero, tenho carências reais; sofro; sinto dor; me sinto só
Vou interromper, não quero mais escrever agora!
(um tempo em silêncio)
Engraçado, já briguei com muita gente por ter sido assim, não estou em condições de garantir que eu não seja. O que eu dizia, há muito tempo, sobre não precisar mais:
- Já tenho tudo o que sempre desejei
Eu dizia isso quando me referia a minha própria vida: estava casado, amando, sendo amado, com uma vida maravilhosa que, se não me dava dinheiro de sobra, também não me deixava passar fome, era algo que eu batizei de "teoria da batata frita". É mais ou menos assim:
- Suponha que você venha andando pelo mundo, comendo de tudo, gostando de algumas coisas, não gostando de outras. Digamos que um dia encontre um prato "dos sonhos", algo que o deixe extasiado e completamente satisfeito. Pode não ser a melhor coisa do mundo, pode haver milhões de coisas muito melhores pelo mundo, mas como a sensação de ter encontrado algo 'definitivo', para que ir atrás de outras coisas diferentes? Não, não sou ambicioso, já encontrei o que me satisfaz, já tenho mais do que jamais imaginei que teria um dia, já encontrei a "batata frita" da minha vida, posso comer isso pelo resto dos meus dias e sempre vou querer mais, não há como ficar "cheio" disso, nunca vou haver comido tanta batata frita que eu não queira comer mais e precise sair em busca de outras coisas. Se eu sair, é possível que encontre novas e boas coisas, mas para que correr o risco, se a batata frita me dá tudo o que quero?
Sobre o que eu falava na "teoria da batata frita"? Eu falava era sobre casamento, relacionamentos, amigos, trabalho e sobre um certo desconforto, uma certa "cobrança" que eu sentia em não ser "ambicioso". O que eu dizia para as pessoas é que eu não era "ganancioso", mas ambicioso não poderia dizer que eu não fosse totalmente: ter um tesouro e querer mantê-lo para sempre não deixa de ser um tipo de ambição. O que eu não entendia era essa ganância dos seres humanos atrás de mais tesouros, mesmo que já possuíssem tesouros maravilhosos; isso não fazia sentido para mim.
Agora tudo mudou: não tenho mais batata frita, perdi tudo o que sempre quis: uma família, uma pessoa que me amava e que eu tinha a satisfação de agradar para mostrar meu amor.
O momento pede reflexão, do tipo: existe chance de recuperar isso? Resposta: não. Posso ter outra família, claro, mas essa família que eu amava tanto nunca mais vai existir. Me parece um bom motivo para ficar parado, na chuva, esperando a morte por inanição: morreu a esperança, o que restará para nos mover? Este é o meu momento. Estava distraído, achando tudo muito bonitinho, flores pelos campos, passarinhos, sol e borboletas; agora acho que eu estava iludido, nada existe, não sou amado, compreendido e estava vivendo de uma ilusão estúpida.
Saber que as coisas acabam não ajuda muito, daí o trauma. Quando eu estava casado não pensava que poderia acabar, agora isso não me sai da cabeça, daí a tristeza....
Depois de um tempo todos temos expectativas e usamos o "mostrar descontentamento" como um sinal de que queremos que o outro atenda nossas expectativas.
Não quero me relacionar com ninguém, não entendo paixões por agora, não gosto de me relacionar sem paixão, não quero me relacionar assim, não posso pensar em mudar e ser assim e não acredito que alguém possa se apaixonar sem conviver. São minhas crenças - erradas ou não - a respeito do assunto. Ainda estou chorando minha separação, ainda tenho um enorme abisssal buraco aos meus pés, que relacionamento eu posso ter com qualquer pessoa? Fica difícil para os dois, para mim, que não estou a fim de conviver com uma pessoa e para a outra, que vai perceber como eu ainda sinto falta de Jan.
Estava acostumado com Jan a dizer tudo, o tempo todo, Jan era minha amiga e mesmo nas questões de ciúmes, se eu dizia que uma certa pessoa me dava tesão, por exemplo, Jan tentava ver isso como positivo, tentava ser aberta o máximo possível e lidávamos com isso, resolvíamos tudo juntos, éramos amigos além de ser um casal. Sinto falta disso nas pessoas, ficar escondendo que a faxineira me dá tesão não me parece motivo de censura. Acho que as pessoas não estão acostumadas a dizer a verdade umas para as outras, um sistema em que tudo o que é perguntado é respondido com sinceridade extrema pode não ser compatível com o que as pessoas estão acostumadas ou esperam da gente. Fui me acostumando a isto nos últimos anos, mas agora começo a perceber que minha vida sempre esteve cercada, nos bons momentos, de pessoas parecidas comigo que podiam contar e ouvir tudo e que ficar próximo a pessoas que não querem um comportamento tão aberto é prejudicial a minha saúde.
Eu digo "coisas ofensivas" há muito tempo, eu me vejo sempre assim, fazendo coisas que podem machucar, já que lido com o que eu penso ser "verdade", o que gera antipatia, dependendo de quem é atingido. Então sei que essas coisas de "não gostarem" sempre vai haver para o resto da minha vida. O que eu não entendo é como certas pessoas tem capacidade de ser compreensivas e outras, que me conhecem há tanto tempo, não tem essa capacidade ou vontade.
Sou paciente, claro, estou numa fase mais "besta" e não tenho agido como sempre faço, estou mais sensível a tudo, mas... normalmente não ligo tanto que não gostem, aliás, a muita gente nunca gostou do que eu faço. Estou preso a algo que não se resolve, um ponto pequeno, mas que atrapalha minha vida.
Eu tinha começado a chorar aqui nesse ponto, ontem, não deu pra trabalhar mais, depois passei o dia chorando e resolvi "me fechar para o mundo" de alguma forma. Fazendo algo que gosto: explorando buracos. Um dos planos de me afastar das pessoas era isso: fazer o que eu preciso fazer. Deprimido, mas trabalhando, que é como deve ser, né?
Lembrei de um amigo, aconteceu há mais de 10 anos atrás, fui visitá-lo e encontrei o apartamento dele todo diferente, a mulher dele me recebeu, conversamos um pouco, eu também era amigo dela, e, depois de um tempo conversando, perguntei por ele e ela me disse:
- Não estamos mais juntos, ele não está mais morando aqui.
Foi um choque... Algumas semanas depois, quando finalmente estávamos eu e ele conversando a respeito disso, ele diz:
- Ela pintou tudo, apagou todas as poesias, né?
Ele tinha, enquanto estava casado, as paredes do apartamento totalmente rabiscadas com poesias dele e de seus poetas preferidos.
Estávamos em um grupo de 7 ou 8 pessoas quando isso aconteceu: o grupo todo ficou em silêncio por alguns instantes quando ele disse isso, havia uma certa tristeza nas palavras dele. Então eu interrompi e disse:
- Não, não é verdade que as poesias foram apagadas... elas estão lá, ainda, só que estão embaixo da tinta
As pessoas acharam graça, um sorriso e um brilho no olhar surgiu nos olhos dele, como se tivesse dizendo. "obrigado por me ter dito isso! Eu não tinha visto por este ângulo!"
É, mas as pessoas são complicadas, não posso dizer que não tenha "traído" Jan, mesmo que tenha ficado "apenas" no "quase". Não existe "apenas" e "quase", Jan estava me deixando muito inseguro, brigas constantes, provocações e mencionando algumas "paixões" que andava tendo (platônicas) e cada vez eu me sentia mais excluído do casamento e, num certo momento, com 5 anos casamento, eu passei a noite com outra pessoa. Embora nada tenha acontecido, isso mudou minha vida: decidi que iria "reconquistar" Jan, que eu queria estar casado e passei a ser mais atencioso, mais romântico, mais emocional, mais animal... Tentei resgatar aos pouquinhos o início de nosso casamento e isso deu certo, tivemos uma ótima fase. Mas Jan não conseguiu fazer o mesmo quando foi a vez de "decidir" o nosso futuro... Jan estava tendo uma atração forte por alguém do trabalho e me dizia que, ao contrário de mim, se tivesse a chance que eu tive, não deixaria escapar, iria "consumar o fato".
Bom, acreditem, isso é natural, mesmo que não na intensidade que está parecendo: é normal olhar alguém na TV e sentir tesão, é normal para uma mulher sonhar com um "galã" da TV, é normal um homem ter atração por outras pessoas no dia-a-dia, o problema não é esse; o problema é "sublimar isso", fingindo que não aconteceu (ou acreditando mesmo) ou esconder isso "para não magoar o outro" ou outra alternativa doentia qualquer. A humanidade convive com isso sendo hipócrita, não quer dizer que atração aconteça o tempo todo, mas acontece e, o melhor a fazer é ser honesto um com o outro o máximo que for possível para cada um. Quando fiquei com outra pessoa, falei com Jan na mesma noite em que isso aconteceu, eu nem podia ter feito diferente; mas Jan já tinha feito algo parecido antes, uns 2 anos dessa ocasião, então não deveria ter sido tão importante: se Jan podia superar desejos de beijar alguém, em certa ocasião, eu também poderia. O caso parecia superado, voltamos a nos "comportar" apaixonadamente, como sempre, mas, é caro, por ocasião da separação, tudo reapareceu. Jan lembrou das vezes em que eu tinha tido atrações por outras pessoas e não das vezes em que nada aconteceu. É normal querer por a culpa em mim por não gostar mais de mim.
Mas a traição não foi assim, não saí "planejando" isso, era uma pessoa conhecida do trabalho, era aniversário dessa pessoa, uma janta para colegas e as pessoas foram indo embora e eu fiquei para conversar... Eu tinha bebido, estava carente, como ocorre em diversos momentos de um relacionamento, Jan vinha me tratando muito mal há semanas. Essa pessoa foi ficando "insinuante", provocante e, ao invés de encontrar alguém para conversar, acabei envolvido, por algumas horas, lutando contra meu desejo do momento. Acho que mesmo estando sob efeito do álcool, me comportei bem, não fiz nada além de um beijo que recebi e que não recusei... Mesmo estando morrendo de tesão, não fui além daquele beijo. Jan, nesta época, já me deixava confuso, já falava em separação, que eu devia procurar outra pessoa, que não sentia mais vontade de pertencer a um casamento. De alguma forma eu me senti empurrado, foi Jan que insistiu que eu fosse na festa, que me divertisse... Quando isso realmente aconteceu, o susto que eu tomei me fez recobrar a consciência sobre o que eu queria realmente: apesar de estar sendo paciente com as brigas com Jan, decidi que eu iria me esforçar muito mais, que eu não queria outra pessoa, por mais sedutora que essa pessoa fosse. Decidi reconquistar Jan tendo o dobro da paciência, o dobro da atenção, refazendo cada coisinha que eu sempre tive de uma maneira especial, sendo mais do que sempre tivera sido, mesmo nos momentos bons do início do casamento. Não sei se isso não foi pior, se isso não estragou tudo - de certa forma, era Jan que deveria ter feito isso, não eu, Jan era que estava me perdendo, naquela ocasião, me "colocando para fora" do casamento (no que Jan concorda, mas que tem explicações psicológicas complicadas, algo que Jan trouxe da família dela, coisa de infância. Eu sei que eu devia ter feito isso antes de ter acontecido algo mais sério, mas acredite, quando a gente é jovem - a gente sempre é - a gente não tem experiência, só se tem isso quando não dá mais para aplicar. Se eu soubesse, ao ir para a festa, que isso poderia acontecer, eu não teria ido, paciência, errei, sou humano. Mas não posso por culpa de tudo em um momento de fraqueza que teve influência direta de Jan, se eu for fazer isso terei de admitir que não podemos viver nunca felizes no universo: todo mundo erra e se os erros não tem volta, como ficaremos todos? A frase "errar é humano" deve ter significado para todo mundo, contanto que haja aprendizado, não é?
Considero um erro eu ter ignorado sinais que mostravam que poderia chegar nesse ponto. Não me culpo, meu erro foi subestimar que tudo é possível, tudo pode acontecer (eu achava que estava imune a isso). Estarei preparado para a próxima vez, acho que não corro o risco de fazer como certas pessoas que aprovam a própria conduta ou a repetem, dizendo para si mesmos que nada podem fazer. Eu não pude fazer nada, mas da próxima vez poderei. É tarde para ter influência no meu casamento, mas não para um próximo relacionamento.
Não posso confundir uma das crises (teve uma no início do casamento, outra aos dois anos de casado, depois nos finais de ano até a separação) com uma crise única, pois quando Jan entrava em crise por causa da família - o final de ano era uma época terrível para ela ou em crise profissional, Jan sempre jogava a culpa no casamento e em mim e eu sempre era paciente esperava passar e tudo voltava ao normal. Existiu uma crise séria, nos últimos 2 anos de casamento, sim, mas não posso confundir isso com um prolongamento de uma crise de 5 anos atrás, ou teria de considerar outras crises também nessa contagem pra dizer que o casamento foi uma crise única desde o primeiro dia... eu sei que traição é uma falta imperdoável e que talvez isso tenha sido a causa adormecida de uma não reconciliação no final dos 10 anos, mas não acredito nessa hipótese, seria muito simplista da minha parte; é preciso encontrar e conhecer o contexto de cada crise de cada briga ou, assim, falando desse jeito, estará havendo um reducionismo a um fato só... este momento de "fraqueza" - traição - havia sido construído há muito tempo, aos dois anos de casado, quando, de maneira crescente, Jan me "empurrava", talvez por alguma culpa na consciência, para fora da relação com brigas constantes e sem sentido. Talvez eu tenha sido pouco paciente, Jan sempre foi muito mimada, centrada nela mesma, filha caçula de uma família de seis filhos, sempre esteve acostumada a fazer o que queria e como queria e é possível que esse jeito irresponsável de levar a vida tenha piorado tudo, nem sempre fui paciente. Era nesse momentos de crise que isso aflorava, nunca vou saber se, nesses momentos, a culpa era minha, por não ter sido mais paciente ainda do que eu fora ou se realmente eram momentos "incontornáveis". De qualquer forma eram vários momentos de crise, não um único que se prolongou.
Não sei, faz mais de 10 anos que não me apaixono... suponho que agora eu seja exigente, já que não me apaixono mais e tenho conhecido muitas pessoas.
Agora sou solitário, não freqüento nenhum lugar, tem de ficar 10 anos casado para entender que os amigos do casal não são amigos de cada um dos dois, é estranho, mas é verdadeiro. Os antigos amigos solteiros desapareceram com o tempo, até por causa do casamento. Os novos amigos, são muito recentes e é difícil, fica difícil de me encaixar se eu não tiver pelo menos uma companhia para fazer "programas de casal". Então o que sobra para fazer é um lanche de vez em quando em algum intervalo, no máximo e é difícil transpor esta barreira, sou meio lerdo para fazer amigos. Geralmente eu preciso de muitos anos para chegar num nível de amizade que eu considere ideal.
Esse abismo faz pensar...
Eu estava vendo um filme chamado "sonhos de uma noite de inverno", básico, gostoso, perfeito... um filme tão bom quanto um beijo... Ele retratava os problemas de um grupo de teatro, vi perfeitamente tudo o que Jan vive, angústias, frustrações, medos, prazer, sucesso, reconhecimento, tudo na medida certa. O melhor filme sobre teatro que já vi na vida... chorei um pouco durante o filme, mais um pouco depois... fui trabalhar, mas antes, passei na locadora e compre uma cópia do filme, comprei para dar para Jan, e depois me lembrei que não podia fazer isso, eu não era nem mais amigo, nem nada, Jan não iria gostar... Mais tarde, aqui, fiquei pensando sobre estar longe de Jan: "desesperança". Fiquei muito mal, chorei, chorei muito, chorei até dormir.
Não sei onde colocar meus beijos, perdi a noção do que é desperdício, pensei: para que comprar uma cópia do filme para Jan? Provavelmente Jan já viu esse filme... é isso um desperdício de beijo? Querer dar carinho a quem não mais o quer?
Um dia uma amiga perguntou sobre o casamento, vendo este enorme vazio na minha vida, esse buraco no meu chão, achou que o casamento devia ser uma coisa muito ruim e que eu, provavelmente, achava que ela não deveria se casar:
- O casamento não valeu a pena?
Sei que valeu a pena, sim. Num formulário, há pouco tempo, tinha um campo para preencher que era assim:
- Qual a melhor coisas que você já fez na vida?
E a minha resposta, prontamente, foi:
- Casar!
Casamento é como sorvete. É como chocolate. É... ótimo!
Nunca vou negar que casamento é maravilhoso, todo meu estado de tristeza e depressão é do meu casamento ter sido a melhor época da minha vida, se tivesse sido ruim, eu estaria bem com a separação, teria me recuperado mais rápido. O problema é esse: quem vai se "encaixar" tão perfeitamente na minha vida como Jan? Quem vai me despertar desejo cada vez que vejo mesmo depois de tantos anos? Quem vai me deixar orgulhoso, que eu possa admirar sem hesitação? Quem vai me completar em tantas coisas como Jan completava? Não é a "pessoa", é o "relacionamento" que me deixa deprimido: se uma pessoa que tinha tanto a ver com minha vida, coisa tão rara, não durou quase nada como relacionamento, apenas dez anos, imagino qual a chance que eu tenha de ser feliz com o resto das pessoas que tenho conhecido e que não se encaixam em meu jeito de ser, pensar, sentir, agir...
Isso tudo é algo que dá a sensação de impotência diante do destino, de incapacidade de ser feliz, com alguém, novamente, de incapacidade de se livrar de um abismo... Faz com que eu veja que as minhas melhores chances de voltar a viver é ficar completamente sozinho. A impressão que dá, é que já vivi toda minha cota de felicidade possível, que eu nem precisaria mais sobreviver por aqui; mas tudo isso não é nada, essa tristeza imensa não é nada comparada com a felicidade que eu tive, então eu jamais poderia dizer: "não se case". Eu digo: case, seja feliz, viva plenamente e cuide de todos os pequenos momentos, como eu fiz, para não esquecer de nada, pois se durar pouco, como o meu casamento durou, ainda assim terá valido a pena.
Ah, mas: "depois do choro vem sempre a bonança"...
Eu poderia colar aqui aquelas frases dos diários de meninas que dizem:
- Sorria, mesmo que seja um sorriso triste, porque mais triste que um sorriso triste, é a tristeza de não saber sorrir!
Mas é uma grande bobagem, claro. Melhor é chorar muito, conviver com essas obrigações que não gostamos, eu também tinha de fazer algo outro dia e fiquei dormindo, escondido, com medo. E comer fígado é uma merda... se a vida é fígado, melhor não comer.
Mas quem sabe estamos enganados? Talvez não seja fígado, seja sorvete e nem tenhamos percebido! Como eu disse noutro momento, fiquei aqui com um beijo a ser dado e sem uma boca, porque meu desejo morria comigo, a boca de Jan vinha à minha mente e não mais estava aqui... Mas, espere! Eu estava com a fita comprada, "Sonhos de uma Noite de Inverno", na minha mão e levei até Jan, já que ia passar lá perto... perguntei, chegando lá, se Jan já conhecia o filme e Jan disse:
- Sim!, esse filme é maravilhoso!, é um filme incrível!
Daí eu disse:
- É para ti... presente. Quando vi lembrei de ti e acho que ele deve ser teu...
Jan me abraçou e agradeceu, contente. Então mesmo sem boca, o beijo foi dado, não acham? Eu estou feliz com o jesto, Jan está feliz com a vida, estamos todos felizes da maneira que nos é possível... é bom poder dar um beijo de coração e alguém que gostamos receber esse beijo de coração... aberto.
É isso, talvez a vida seja fígado, alguns nascem gostando dessa porcaria nojenta, são como aquelas pessoas que estão sempre sorrindo, belas, a vida cheia de sol, passarinhos na janela, borboletas... e tem as outras pessoas que odeiam fígado, que entre ter de comer isso, sentir o cheiro desagradável ou morrer, preferem não viver. Mas tem o caso intermediário, a maioria: pessoas que não odeiam fígado, apenas não gostam muito ou nunca provaram.
Se um dia tiverem de comer fígado, coloquem muito tempero, cebola, alho ou algo que gostem muito e que tire o sabor ruim da carne... o grande lance da vida é esse: levar a vida, que tem gosto ruim, com um monte de batata frita e tudo o que tiver de bom, pra distrair a gente daquele cheiro e gosto horríveis.
Translation - Spanish “El agujero” o “Yo odio el hígado”
Introducción:
El personaje empieza la escena sentado al borde de un gran agujero en el centro del escenario y va a actuar todo el tiempo con este único objeto: la ausencia de un suelo. Alrededor del agujero hay algunas posibilidades cómodas como una cuerda para subir, escapar o planear peligrosamente sobre el abismo; también es posible haber una silla para que el actor pueda quedarse allí, descansando, mirando el agujero; o entonces palas y arena que permitirían que el actor intentara tapar el agujero. El personaje va a jugar todo el tiempo con las posibilidades que tiene y hablar del pasado, de cuando allí, en aquel lugar, él tuvo la mejor de las vidas, hasta que un día, al despertarse, se deparó con aquella “singularidad” en el medio de su vida: la persona que él quería, Jan, se había marchado después de diez años de convivio, dejándole apenas aquel enorme vacío.
“El agujero” o “Yo odio el hígado”
¡Ah, estupendo!
¿Pero por qué este tío no deja nada sin comentario? ¿Sin marcar y remarcarlo? Yo me habría puesto más feliz si no tuviera que comentar el agujero que ha aparecido aquí. Un día me desperté y mi vida había cambiado: no había el mismo suelo. ¿Por qué no dejo intacto el paisaje por donde paso y no limpio cualquier huella de mi trayectoria por los caminos tan lindos que nos piden que no los toquemos para que no dejen de tener sus encantos? Si no hubiera hablado de este agujero nadie sabría que existió; bueno, algún amigo perdido, sin saberlo, me preguntaría a veces:
- ¿Cómo está Jan?
Y yo le contestaría:
- Se ha ido, se ha llevado todo lo que yo tenía, todo lo que quise, todo lo que pensé que era mi vida, casa, familia, todo.
Pero me ha dejado el mayor juguete que tengo para distraerme: un enorme abismo, un agujero enorme en mi vida, ¡de donde no me puedo alejar!
¿Por qué no cruzo el abismo como cruzo la calle? ¿Por qué me distraigo con su tamaño y profundidad? ¿Por qué miro hacia los dos lados del puente improvisado que ultrapasa el abismo y luego vuelvo y lo repaso todo otra vez, llenando de huellas la fina capa de polvo que cubría el puente? ¿Por qué yo veo, reveo y como, vomito, arreglo y lo estropeo todo?
¿Por qué no podemos dejar el abismo tal como fue encontrado, la destruición como está y el fondo sin iluminación?
¿Por qué investigo alrededor, buscando la suciedad, los pequeños adornos que encuentro al borde de la existencia? ¿Por qué interacciono con los barrancos del abismo? ¿Por qué el abismo es como un picor molesto que no conseguimos dejar de rascar?
Pues, ya ves, he acabado mal…Ahora somos casi todos viejos. Envejecemos. Mucho. Como ya estoy en la vejez hace mucho más tiempo – desde diciembre de un año cualquier – puedo garantizar que todo va a empeorar ahora. Al día siguiente de mi abismo, cuando Jan se fue y me dejó ese vacío gigantesco, la legión de mujeres que solían acompañarme en orgías, en mis pensamientos, abandonó mi imaginación sin muchas disculpas; mi pelo se me cayó a centenas; se me cayó una obturación; después otros males peores vinieron a la boca. Como ya estoy en la edad equivocada, mi odontólogo me dijo que no valía la pena tratarlo. Agujeros…la vida está hecha de agujeros, unos pequeños, otros grandes…En otras partes la devastación prosigue y el médico me da remedios más caros y que curan menos. Los dolores son más grandes y los amigos más distantes.
Bueno, pero también hay el lado positivo, por supuesto. Ahora mismo me falla la memoria, pero estoy casi seguro de que había algo bueno guardado para este momento.
La vida empieza en un agujero. No hay nada que un sexo ofrezca al otro que no sea una variedad de ricos agujeros, calientes, alucinantes, mojados, sabrosos, algunos en sitios distantes, no alcanzables, otros allí, en la punta de los dedos, al alcance de la mano, de la lengua, de la nariz, del mentón, del ombligo, del pie, de los codos, yo que sé…ni sé de lo que estoy hablando.
Para mí, hablar sobre uno mismo es como desnudarse, es casi una violencia…es difícil quitarse la ropa delante de un amigo, de un nuevo amor o del médico; eso siempre requiere tiempo, madurez, ganas, necesidad.
Cuando usamos metáforas, texto, poesía para comunicarnos, estamos “dándole una vuelta” al problema: nos exponemos sin quitarnos (totalmente) la ropa, nos desnudamos, pero manteniendo indumentarias semitransparentes, que nos enseñan sin que nos vean; la luz débil, la semioscuridad ayudan todavía más para esa autoprotección.
No es fácil subirse a una mesa y hacer “striptease”, aunque por una loca pasión, ni necesario quizás; sólo el tiempo y la intimidad lo permiten.
Aunque la desnudez delante de un amigo tenga el mismo carácter de la que se hace delante de un médico, eso no disminuye la transgresión del hecho y yo tampoco iba a querer algo así; deseo quererle a un amigo además de eso y jamás necesitar que eso ocurra, pero, si ocurre, que no haya constreñimiento.
Metáforas...yo odio el hígado. Sí, lo odio de verdad. Creo que la vida es como el hígado…a algunas personas les encanta, y otras lo detestan. Las personas nacen odiándolo o encantándoles el hígado. Es una cuestión de suerte…o mala suerte.
Jan odiaba hígado también…pero, un día, por vergüenza de rechazar el plato, comió hígado en un almuerzo en la casa de desconocidos. ¡Qué asco!
Monteiro Lobato escribió un cuento en el que un personaje odia hígado. Me encanta Monteiro Lobato por eso.
El personaje que él creó, tiene que participar de un banquete cuyo plato principal es hígado…Él tiene que tragarse aquello: pueblo pequeño, no tuvo el valor de decir “no”. Él divide la carne en dos trozos y los traga de pronto para no sentir el sabor. La señora de la casa, pensando que le había gustado mucho, le sirve otra vez. Sin saber cómo repetir la hazaña, él esconde el hígado en el bolsillo. Todo va bien, hasta que se olvida del trozo de carne en su bolsillo y cuando, a la hora de declamar unos versos, el sudor le viene a la frente y se saca el lienzo del bolsillo, sale el filete volando de su escondite. El personaje huye de la ciudad, avergonzado, con la fama de gustarle tanto el hígado que no podía sólo comerlo sin también esconder algunos trozos del manjar en los bolsillos.
La vida es así, algunas personas prefieren tragarse el hígado que se les ofrece. Otras, lo esconden en el bolsillo. Algunas hacen las dos cosas.
La vida es un hígado. ¿O será un agujero? Bueno, en la mía hay un gran agujero. Un bolsillo es un agujero, ¿verdad?
Una boca es un agujero. Todo empieza con un beso, ¿no?
Y todos nacemos nueve meses después saliendo de un agujero. ¡Agujerón!
No sé si lo que hago aquí es arte o ciencia. No estoy estudiando agujeros. Me estoy perfeccionando en el arte de convivir con uno. ¡Éste!
A ver, he tocado en un punto interesante, al hablar del arte y ciencia, se me ha olvidado decir que vivimos en la cultura del culto al agujero. Ni nos damos cuenta, es universal. Es histórico. Tiene raíz. La “historia” tiene importancia en relación a todas las tendencias culturales y artísticas, que también tiene una relación con la ciencia. Todo está relacionado con todo. Estoy aquí, cerquita, mirando, viendo lo que puedo hacer. ¿Y si me transformo en un gran héroe? La persona más importante de la historia: aquél que descubrió como convivir pacíficamente con los agujeros.
Soy bastante sensible a lo que ocurre, aunque me encante ver fútbol americano por la tele y gritar por cada punto logrado. Soy bastante sensible para ciertas cosas, tengo una mirada “diferente” de la mayoría de las personas, una percepción diferente. Pero eso no es bueno, la tendencia de las personas, aunque – casi siempre – se quejan de la insensibilidad humana, es entender tal sensibilidad como debilidad, no como virtud. “A la hora de la verdad” parece que lo que vale más es ser un idiota. Lo que importa es parecerse a las personas de las que mantengo distancia.
Jan, al principio, se admiraba delante de esas cualidades; pero, cuando nos separamos, final de matrimonio de diez años, eso fue, en la visión de Jan, un peso: “una debilidad”. Algo que yo no debería tener, por lo menos fue lo que Jan pareció decir.
Por aquí, el hecho de estar separado o no nunca fue importante, del punto de vista institucional: estuve casado diez años, pero nunca “legalmente” casado, siempre fuimos diferentes cuanto a eso, no nos importamos con las reglas de “los demás”. Pero es justamente porque tenemos tanta afinidad que la separación es tan dura, es difícil comprender como dos personas que se llevan tan bien tengan que separarse para que estén bien. Creo la elección de Jan estaba correcta. Es triste, pero matrimonios, por mejor que se haya elegido a las personas, no durarán para siempre.
Entonces, es eso, empezar todo otra vez, tener cosas que hacer, cosas que cuidar, parece que está siendo bueno para mí. Si supiera que sería así habría venido a vivir solo antes, perdí mucho tiempo “sin ganas” de enfrentar eso, preferí estar un año tirado por el mundo. Salí por ahí para estar algunas semanas fuera y estuve un año sin estar en ningún lugar. Después de venir aquí, aunque con el abismo disponible desde mi separación. ¡Un año más parado!
Pienso que cada persona busca las soluciones a su manera, esas cosas traumáticas no tienen fórmula, son difíciles de pasar.
Me he acordado de otra historia de hígado: Prometeo, encadenado, que les robó el fuego a los dioses para entregárselo a los hombres. En la mitología, fue castigado siendo encadenado y tenía el hígado comido diariamente por un ave. El castigo era eterno, el hígado se regeneraba continuamente. En mi visión de la leyenda, no es Prometeo el que recibe la gran punición. El gran castigado es el ave que, sin tener nada que ver con el crimen, recibe el castigo de comer hígado por la eternidad
¿Hay cosas peores que hígado?
Hay cosas peores que la soledad: ¡separación!
Cuando a uno le gusta alguien y es abandonado, si la relación entre los dos todavía es fuerte, o, por lo menos lo es para el que fue dejado, como en mi caso, es muy duro, difícil de soportar. Creo que el trabajo es un fardo cuando uno no siente apoyo, aquello de volver a casa y no encontrar, esperar a alguien, pero, por otro lado, ayuda a distraer los sentimientos, la sensación de que nos falta un trozo.
Recuerdos: también tengo guardado todo lo que puedo de Jan, han sido diez años perfectos, es imposible aceptar que un día tuviera que acabar. Creo que es algo que no voy a comprender nunca, como alguien que tú conoces puede tener una visión tan diferente de los mismos hechos. Pero, muy bien, pienso que es así. Sin embargo, un amor tan especial, tan lleno de felicidad, me trae la sensación de que jamás encontraré a otra persona como Jan, aunque vuelva a ser feliz, creo que no encontraré jamás a alguien que me complete como Jan lo hacía.
A veces pienso en estudiar otros agujeros, tengo muchas barreras al hablar y escribir sobre ellos, aunque los vea como un técnico, sin grandes problemas y sea capaz de entenderlos razonablemente bien. Pero, yo que sé, parece que no salgo del lugar, estudio un semestre, lo dejo, vuelvo a hacer el mismo nivel en otro agujero y así va…no tengo ganas de estar en otros agujeros, en las mismas cosas…a ver, con toda esa tristeza es que no quiero estudiar otro agujero, aunque quizá fuera algo bueno a hacer.
Bueno, es eso.
Es difícil entender la vida.
Tengo amigos, programas, salgo para encontrar gente en la misma situación. Ya hace meses…Esta semana una de esas personas empezó a querer algún tipo de envolvimiento, o, quizá, investigar la posibilidad. Yo, con mucho cuidado, intenté explicarle que no me sentía atraído, que no tenía nada que ver con ella…pero no me salí muy bien, ella se enfadó y se peleó conmigo. Es con esas personas que acabo teniendo contactos más frecuentes, personas a quienes llamaría “amigas”. Son ellas, al mismo tiempo, que insisten que debo olvidar, intentarlo con otra, que estar parado es peor. Por eso, acabé teniendo una novia por correspondencia, participando de citas a oscuras con amigos de amigos…Como algunas personas que yo conozco son de fuera de mi camino, eso dificulta la posibilidad de citas, de salir, de conocer “de verdad”. En la práctica no está resultando…Sigo prefiriendo estar estudiando agujeros y cambiar informaciones sobre eso con otras personas a salir con ellas. Estoy dividido, alguna cosa me lleva a buscar compañía, pero otra fuerza siempre me lleva a encontrar motivos para quedarme aquí, para no enrollarme, para evitar contactos “reales”. No sé si voy a vencer esa barrera, cruzar ese abismo, pero creo que los contactos con personas me están haciendo pensar más en el tema. Si, un día, una de esas fuerzas va a vencer dentro de mí, todavía es difícil definirlo.
Pienso que el camino al borde del abismo es largo y espinoso, lleno de vueltas y transformaciones, por eso insisto en llevar mis cosas: pero es sólo para los casos de emergencia…linterna, cuerda, zapatos con clavos…espero que esta terapia dé resultados un día.
Pese a estar separado a más de un año y tener muchas dificultades para olvidar el trauma, la cuestión es que está siendo difícil “volver a la normalidad”. Nadie desea estar solo, pero algunos (como en mi caso), cuando están en este estado, pueden ponerse a ver todo sin gracia y sin ganas de volver a tener algún tipo de relacionamiento…Mira, ya he intentado tomar una pala y echarle tierra al asunto. Después eché más tierra y más y más, no hizo ninguna diferencia, ese agujero no tiene fondo. Nunca, pero nunca de verdad, él va a estar tapado.
No estoy mezclando esas ganas, ese sentimiento de saber que es imposible terminar con el abismo, con la conciencia de que no puedo estar así para siempre. Por eso mi intento de conocer nuevas personas, aunque sin intención de un relacionamiento mayor que el estudio de agujeros, al principio. Ser feliz no es un objetivo claro, en algunos momentos parece que da igual lo que venga a suceder…Después, como en este instante, las cosas cambian y me pongo a pensar que debo tomar alguna actitud…y así siguen las cosas, oscilando entre uno y otro estado. A veces cruzo el abismo…pero miro hacia atrás y el abismo sigue allá y yo todavía estoy a su orilla, necesitando cruzarlo hacia el otro lado. Da absolutamente igual el trabajo de cruzar.
Tomar la azada y la pala me hizo recordar lo mucho que acabo involucrado con el trabajo cuando estoy en periodo de investigación…A veces porque lo necesito, a veces sin darme cuenta, tengo la tendencia a estar inmerso en el agujero y estar siempre buscando asuntos relativos a él.
Empiezo a ver algunas ventajas en estar solo, pequeñas cositas que había dejado de hacer, por mi propia elección, la mayoría: ahora puedo volver a incorporarlas a mi manera de ser. Ayer, por ejemplo, salí para ir ver un partido en la televisión… ¡es un avance!
Tengo subidas y bajones en esa “fase de recuperación”, a veces estoy feliz por estar solo, a veces me siento vacío y sin ganas de hacer nada, bastante triste. Después me recupero y así sigo: forma parte del proceso de tapar agujeros, supongo.
Estar buscando una pasión, todos estamos, aún cuando no estamos, ¿verdad? El problema es cuando la pasión se acaba…o cuando no sentimos más ganas de buscarla.
Quedo oscilando entre querer cambiar mi vida y volver a la anterior, siempre es un gran problema todo eso, esas decisiones, no poder saber lo que es mejor para mí…de todas las formas, cuando estoy aquí, es cuando estoy feliz al máximo, pero cuando estoy aquí, es que pienso en tener compañía para hacer algo además de quedarme aquí.
Me siento en el deber de decidir, pero, a la vez, hay un miedo de tomar iniciativas que me lleven a caminos definitivos. Qué tontería, ¿a qué sí? Es un miedo, yo sé que puedo dominar la situación si quiero, pero el miedo, pequeño, está siempre allá. Tengo miedo de quedarme lejos de mis cosas, pero también me da miedo quedarme solo y, aún sabiendo que son miedos imaginarios, que tales cosas no son incompatibles, yo que sé lo que pasa…no soy capaz de salir de ese callejón sin salida.
Quizá la situación de la separación no sea compatible con ser una persona feliz, pero, ¿qué se le va a hacer? No me parece que sea así, al mismo tiempo, sería una explicación para lo que se pasa dentro de mí. Indefinición.
Hay tantas cosas que podrían ser más sencillas si no necesitara pesar, pensar, reflexionar, medir…no puedo huir de eso. Ah, qué se yo.
Ya he tenido otros agujeros en mi vida…la última vez ha sido hace más de doce años, cuando tenía serios problemas y crisis que me hacían pensar que la autodestrucción era la única salida. De alguna forma, haber cavado mi propio agujero en aquella época ha garantizado mi supervivencia mas reciente tras la separación. La separación ha sido el agujero más profundo que ya había visto y, aún así, ningún pensamiento “malo” me pasó por la cabeza. Nunca he intentado saltar hacia dentro. Bueno, he pensado en tirarme en él y acabar con todo sí, pero no de manera seria, si quisiera lo habría hecho. Eso ha pasado en algunos días un poco malos. Siento que avanzo – despacio, pero “adelante”.
Ayer yo estaba escribiendo sobre agujeros y me pasó por la cabeza una observación interesante, la que yo pasara la idea, a los demás, de que me encanta lo que hago. Es verdad, a veces ni lo noto, pero el trabajo de investigar las profundidades es muy divertido, pese a las cuevas terriblemente calientes en las que ando trabajando. Odio tener que trabajar con el calor. Yo siento un placer muy grande cuando tengo un barranco que me hace llegar a nuevos descubrimientos: creo que soy un poco bobo, ¡me encanta investigar eso! Claro que lo ideal es poder vivir también, pero en una relación entre explorador y abismo, en lugar de “hallar” vida afuera, lo más común es reencontrar aquí dentro algo que hacer.
Creo que voy a ducharme, lo necesito, ¡he trabajado mucho hoy!
Con Jan, yo quería que hiciéramos todo juntos, pero Jan no quería, decía que no lo necesitaba, que yo era el que estaba encontrando cosas que hacer, que yo era el que tenía que buscarlas…aburrido, ¿no? Después de la separación, ella fue hacer lo que bien quería, sin mi presencia.
Sí, creo que necesito una ducha, hoy marcaba cuarenta y un grados en el termómetro que yo he puesto allá abajo, no es posible verlo desde aquí. He tenido que trabajar en una sauna otra vez, pero es estupendo estar allá abajo, aunque que me deshidrate…
La sensación de hablar con las paredes: a veces hablo con ellas…Pues, algunas paredes son calentitas y vale la pena apoyarse en ellas, creo que me gusta, por más pared que yo pueda parecer. Pero creo que eso debe ser complicado, hay muchas cosas que ocurrieron y me han fastidiado en los últimos días, por más habilidad que tuviera en esquivarme de los problemas, no es posible decir que todo haya salido bien de manera a tomar una decisión tranquila acerca de mi futuro. Creo que preferí optar por esconderme ante el desafío.
¿Por qué paredes? La sensación de un alejamiento es real, eso realmente sucedió, pero fue una especie de juego de miedos que siempre pueden ser interpretados como una fuga. Es a causa de nuestros pequeños “miedos” que actuamos de tal forma. Eso ocurrió, aunque más como un test: yo tenía expectativas diversas que no fueron atendidas en mi investigación aquí y eso me fue generando una cierta inseguridad…No piensen que la decisión de quedarme aquí ha sido fácil, el miedo insistía todo el tiempo. Por más racional que intente ser, necesito decirme a mí mismo siempre: “es sólo una visita, todo va a salir bien”, repitiendo muchas veces, sin parar para que disimule el pánico de que quizá jamás vuelva. Lo que ocurre allá dentro y que no podemos admitirlo es: ¿Saldré de aquí? ¿Veré la luz otra vez? Eso puede ir creciendo y hacerse más grande de lo que podemos calcular.
Mi manera: Ponerme neutro en una decisión. Soy racional y parezco frío en esos momentos: engaño, la visión de la pared que tenemos no se acerca a la realidad, sólo el tacto, la proximidad puede dar el verdadero conocimiento. Algunas paredes son calentitas, aunque su apariencia sea de sombra y frío…ser neutro tiene que ver con ciencia, no con frialdad. Sé que las personas tienen dificultad para entender que soy común…
Nadie conoce mejor el valor de las cosas pequeñas que yo…algunas incluso las llevo conmigo…cualquier día se las enseño…
Sobre mi matrimonio, sólo puedo decir que lo he intentado todo: ser rebelde, ser paciente, ser yo mismo, ser otra persona – el compañero ideal en la visión del otro ni siempre es lo que uno es al natural – entonces lo que sé es que: si alguien no te quiere más no hagas de tripas corazón, no hay nada más que hacer. Y no creo en eso de que fue algo que hice o dejé de hacer que hizo con que Jan dejara de quererme. Las personas pueden dejar de quererle a alguien independientemente de lo que hacen o no, porque, por el otro lado, las personas también te pueden querer por lo que haces o no. Jan, al separarse de mi vida, después de la confusión haberse calmado y de que yo dejara de echarme la culpa por no haber más pasión, me dijo:
- Yo sé que nunca voy a encontrar alguien como tú. Fuiste perfecto, pero no puedo vivir sin pasión en mi cuerpo…me voy a arrepentir de estar lejos de ti, no hay nadie parecido, pero es mejor vivir lejos de alguien perfecto que vivir con él sin haber una pasión que justifique la convivencia.
Eso justifica, según Jan, el fin de un matrimonio, pero no el fin de una amistad. Para mantenernos lejos uno del otro, Jan tiene otros motivos: Me dice que no me quiere cerca porque le da miedo no resistirle a mi cariño. Jan no me quiere cerca sabiendo que tengo esos sentimientos todos. Jan tiene cariño por mí y no desea mi sufrimiento, pero no puede hacer nada. Entonces, el abismo nos ha separado, ni amigos podremos ser, pues, difícilmente la dejaré de querer.
No puedo quejarme, cuando veo matrimonios en los que la pareja se queja uno del otro, creo que, desgracia por desgracia, la mía no es de las peores: lo que siempre busqué fue el reconocimiento de que estaba haciendo lo que podía…Jan lo reconoce, entonces…ya está.
La verdad es que no sé nada.
Ya lo ves…toda la gente sabe que Sócrates, el filósofo griego, no ha dejado nada escrito, pero hay una frase suya que alguien se acordó de dejarla para la historia que es: “Sólo sé que no sé nada”.
O, si prefieren, mi versión actualizada para los días de hoy, ya que no puedo copiar sin alterarla un poco: “Sólo sé que sé menos que Sócrates”.
Han dejado la frase del hombre intocada durante dos mil quinientos años y yo llego y la altero… ¡el mundo debe de estar un poco raro!
Pero todo eso, era sólo para decir que nada sé, que no afirmo nada, no me comprometo por nada y el que lo quiera creer, que lo haga por su propia cuenta y riesgo.
El hecho de no gustarnos no significa que no podamos analizar, desmenuzar, estudiar, diseccionar, destacar…bueno, lo hago con personas, películas, con poesías, creo que puedo hacerlo con los puntos que me gustan y los que no me gustan…
Creo que no cerraremos el abismo nunca…siempre que nos acordemos de algo, ¡volveremos a ellos!
A veces hacía eso: me sumergía en las películas… ¡durante años fue mi principal diversión! Pero, yo que sé, el tiempo pasa y entonces el problema de la imposibilidad de leer, ver, comer de todo… ¡eso es muy complicado!
Ahora estoy viendo poca cosa, no hay con quien comentar es muy malo…el agujero.
Cuando nos ponemos así, como solos, me entra un vacío…
Ayer no estaba bien…no por algún motivo, pero no estaba bien, estaba triste. Pero nadie entiende, creen que me estoy haciendo la víctima, cavando mi propio agujero.
Incluso quise salir, me estaba sintiendo peor, sólo quería un “hola”, una esperanza, pero…Estoy aquí, no he comido bien todo el día, no he dormido nada esta madrugada, me he dormido en la ducha, después. Estoy cansado.
Me acuerdo de una pelea…Yo necesitaba cariño, quizá fuera en un mal momento, no lo sé.
Pero no pasa nada, me quedo aquí oyendo música, entonces me pongo mejor, quiero que toda la gente esté bien también, aunque nadie me entienda, quiero que todos estén bien siempre…
Echo de menos eso de “estar conectado” a alguien, aunque sin hablar con la persona. Saber que alguien está bien es tan bueno…
La distancia nos pone así, creo. Entonces, ven, quédate cerquita de mí, dame cariño, anda…lo necesito. Lo estoy pidiendo, no hay que perdonarme, no hay que disculparme, es que me siento solo.
Siempre que empiezo a hablar de eso me pongo a llorar, ¿por qué? Estoy cansado de ser un llorón, quisiera que todo ya hubiera pasado: quisiera pelearme con alguien y ponerme furioso, ¡no triste! ¿Me pondré triste porque no me peleo con nadie o no me peleo porque estoy triste?
A veces veo a algunas personas que no están bien, voy a reprocharlas y después tienen toda la razón por pensar mal de mí. En aquel momento no pienso bien, veo aquel agujero de nada y me enfado. Me parece absurdo ponerse triste a causa de charcos, ¿por qué tengo ese vacío enorme mientras que otros tienen apenas una ligera depresión en sus vidas? Así que, en aquel momento, no lo tomo en serio que así no puede ser, ¿a qué no?
A veces necesito ayuda y prefieren no tomarlo en serio mi pedido de socorro, prefieren pensar que es otra cosa. Pero, no pasa nada, no estoy tan mal así, lo estaba hasta hace algún tiempo cuando una niña vino y me sacó de la oscuridad, por eso no me importo cuando a veces no quieran ayudarme, creo que estoy explorando cuevas para estar bien, nadie tiene la obligación de estar disponible, como si fuera un ángel guardián en jornada integral.
Es tan malo estar inestable. Cuando estaba casado yo me quería más. ¿Qué se le va a hacer, no?
Bueno, creo que no me siento seguro, hay ciertas cosas que si son dichas, me revuelven por dentro, me confunden.
Cuando vi a Jan por primera vez, empecé a sentir una fuerza, algo, y no podía dejar de mirar. He conocido a otras personas así. Es curioso, siento algo parecido por otras personas, a veces. No voy a mentir que nunca había sentido algo así por otras personas, pero han sido pocas. Quisiera encontrar a alguien y sentir lo mismo, qué sé yo…Eso es muy doloroso. Me da miedo no sentirlo más. ¡Ostras! No puedo llorar, tengo muchas cosas que hacer hoy.
Pasados seis meses de conocerla a Jan estábamos casados. Siempre pienso que ha sido lo mejor que he hecho en mi vida, pero siempre escucho voces de gente diciendo que ha sido tontería hacerlo, que por haber sido tan rápido no podría durar nada. No quisiera tener esa duda, pues me hace sentir culpable. ¡Vaya! mejor hablar de otra cosa, no puedo llorar.
Creo que voy a cambiar la música que está sonando por otra, así no tengo tantas ganas de llorar…A ver, un momento…ni me acuerdo porque estaba diciendo todo eso.
Quisiera encontrar a alguien para poder decir:
- Te echo de menos. ¿Te quedas conmigo? Te quiero, te quiero mucho…
Todo es bueno y malo a la vez. Estoy conociendo gente, después nos alejamos como siempre, fuerzas mayores interfieren…pero aún tengo un largo camino junto a alguien, está siendo divertido.
Por esos días he encontrado a una persona especial: la amistad aún me va a salvar la vida…
Ya lo sé, todo se acaba un día, entonces si no nos conocemos, saltamos ese trauma; pero el camino solitario no tiene gracia, o, por lo menos, es menos divertido que acompañado por alguien que tiene algo a decir. Aunque el otro se baje en la próxima parada, el paseo con alguna compañía es mejor.
Hay cosas que, ¡vaya!, le molesta a uno decirle a alguien si no hay confianza…
Una vez una amiga me ha preguntado si ya había tenido varios “rollos” simultáneos y la respuesta ha sido:
- Sí, ya he tenido varios amores al mismo tiempo, cierta vez, una de ellas fue Jan. Ya pasó eso de estar con dos personas en la misma casa, pero no en la misma habitación, es decir, no estaba haciendo nada obsceno – una manera delicada de decir que no las estaba tirando simultáneamente.
Todas las personas que estaban conmigo, en aquel momento, tenían conocimiento de lo que se pasaba y eran avisadas que yo no pretendía “deshacerme” de las anteriores. Jan, sin embargo, las expulsó todas, una a una; no directamente, pero encontró una manera de dejarme siempre ocupado hasta que tuve que ponerle fin a aquello…tuve que elegir entre Jan y las demás. Siempre he tenido la sensación de haber tomado la mejor decisión en la vida, pero ahora, delante de la separación, no estoy muy seguro de lo que es cierto, mejor, bueno, o algo parecido…Estoy intentando mantener la mente abierta y no tener moral, pero es verdad que (quedó claro desde aquella vez) tener muchos relacionamientos simultáneos era señal de que no me gustaba ninguna como pensaba hacerlo.
Actualmente, salgo con una persona desconocida cada quince días, buscando algo que ni sé lo que es. Casi una búsqueda mágica, creyendo que cuando lo encuentre sabré lo que buscaba. Pero, no veo a nadie más de una cita…
¿Cuándo tiempo puede durar una tormenta? Podrá durar…yo que sé… ¿hasta cuarenta días y cuarenta noches? ¿Qué es una crisis? ¿Después de la tormenta nos volvemos más fuertes?
El que resiste a una tormenta quizá no se haga, necesariamente, más fuerte: puede que sea una ilusión causada por el buen tiempo. Durante la tormenta la sensación que la situación podría acabar mal puede hacer con que, una vez que el tiempo mejore, nuestras expectativas sobre la supervivencia sean muy grandes…es difícil medirlo con seguridad. Todo eso es un “quizá”: estoy haciendo conjeturas sin grandes preocupaciones en relacionarlo con algo concreto.
No soy “bueno”, “guapo” o lo que sea; soy apenas yo mismo, no hay valor en eso: es como ser “inteligente”, o “bajito” o “narigón”, no lo hago a propósito. Por cierto, si necesitara ser más inteligente de lo que ya soy, como a veces la vida lo exige, también no podría hacer nada. No soy inteligente o burro porque quiero, pero porque algo, (biológico, social o espiritual) más grande que yo, me han hecho así. Claro que lo contrario también puede pasar, algunas personas quieren (o les gusta) ser burras…sin embargo, es difícil juzgar donde está el libre albedrío delante de todo eso. ¿Somos lo que somos o lo que queremos ser? Si somos lo que queremos ser, ¿qué es lo que determina nuestro “querer” ser de esa forma? Cuando tengo a mi alrededor personas más inteligentes que yo, me pongo a pensar mucho en eso, sobre el hecho de no poder ser más de lo que soy y de que ellos no puedan ser menos de lo que son.
De todas las formas, ante eso, es difícil decidir hasta qué punto ser bueno: ¿serlo hasta que uno no pueda más o mientras no estamos siendo machacados por ello? ¿Pero es posible ser tan racional a la hora de elegir? Creo que no, quizá incluso pueda hacerlo de manera consciente y ponerle fin cuando me esté haciendo daño, pero, de manera general, no me acuerdo nunca de haber pensado en la posibilidad, como lo decía: soy lo que soy, sin querer.
Sí, pero, para ser justo uno tiene que ver también el otro lado: también soy egoísta.
Bueno, estoy en una fase muy inestable, y eso se refleja directamente en mis relacionamientos: me peleo con todo el mundo, incluso con la sombra. Turbulencia, como ya lo había nombrado hace unos días cuando le explicaba a una persona lo que me pasaba. Tormenta.
Supongo que me gusta hacerme mi propia pintura en tonos más bonitos que los reales. Creo que sin los colores, lo que tengo dentro me parece feo, crudo y destruidor para las personas, así que en esas fases que estoy sin la fina capa de aceite, hay mucho atrito.
Las personas son así: si por toda la vida fuiste pendenciero, no se importan con una pelea más, pero si, al contrario, fuiste siempre amable y atento de alguna forma, en esas fases de “pelea”, lo que les gusta ver es: egoísmo, mala fe, maldad, dolo, agresión.
Eso me parece muy injusto, que no pueda tener mis cortos periodos de depresión, de melancolía o, como a veces, de ausencia de medias palabras, de lubrificante, de tacto.
Cuando estoy sin piel, me doy cuenta que la visión que las personas tienen de mí es asquerosa y entiendo la necesidad de distancia; también quiero distancia, no quiero que me vean así y que les parezca feo.
Pero no soy feo, de la misma forma que antes, con piel, no era bonito: lo que ellas no pueden ver por encima de sus propias sensaciones de asco, es que su visión es imparcial y que, principalmente, su asco me hace mucho daño.
El viernes salí con una persona que me dijo una hora:
- Yo podría haberme descrito de manera horrible y quizá no estuviéramos aquí.
Esa persona se refería a una enorme cicatriz en su rostro que yo ni había notado que estaba allí, consecuencia de un accidente en auto hacía veinte años, en el que más de cien puntos habían sido necesarios para su reconstrucción.
Mi incapacidad en reconocer detalles sólo no es peor que mi capacidad para leer señales y entender formas alienígenas de comunicación.
Es bueno conocer gente nueva.
No sé bien hacia dónde voy cuando entro en el abismo, pero sé que a las personas no les gusta y no quieren ir junto.
Lo que sea que haya dicho en el pasado, cuando estuve aislado allá abajo, la falta de piel debió de ser un gran espectáculo. Me llamaron hacia fuera de la cueva y ahora les parezco horrible; ¿qué significa eso? ¿Significa que no me escucharon, qué no hicieron caso a mi pedido de estar solo, qué les pareció que yo estaba siendo egoísta? No entiendo nada. Si me quieren como estoy que lo hagan tal como me enseño y si no quieren, entonces que me dejen solo porque quizá en la esencia siempre haya sido un monstro solitario.
Ayer, una persona me mandó un mensaje muy indignada acerca de mis actitudes; se tomó mi sumersión en el abismo como si se tratara de una ofensa personal. Después piensa que mis bromas estúpidas son una gran ofensa. También me peleé con otra persona que cree que intentar demostrar cualquier cosa además de mi comportamiento habitual es reprochable, es una especie de crimen que ni imaginaba que existiera.
Me estoy desahogando demasiado, ¿verdad? Discúlpenme, es que me encuentro muy solo ahora mismo.
Y aquí estoy yo, quizá esté siendo un poco agresivo, violento con las personas, pero quiero me miren hacia dentro, dentro de mí y vean que abrir el corazón no es, exactamente, una forma de agresión como suele ser interpretada.
Bueno, ¿alguien tenía dudas sobre lo que dije? ¿Sobre la forma? ¿Sobre el contenido? ¿Sobre las partes específicas o lo general? Por lo menos todavía no he perdido la rara manía de querer explicarlo todo, hasta donde sea posible, entonces aprovechen, me encanta aclarar dudas. Es lo único que ha quedado por decir.
Y disculpen si el lenguaje está crudo, directo, ¿sí? No sé si debo disculparme, pero como cada vez que me comunico con alguien soy incomprendido y atacado, mejor tener cautela, estoy cansado de que me peguen…
Ya no sé lo que es cierto o injusto, pero es bueno saber que alguien, en algún lugar, piensa como nosotros, que existe esperanza, y que después de la tormenta va a haber un puerto seguro donde las personas se van a encontrar y confraternizar. Es bueno no haber sido bombardeado como enemigo, porque haya ido demasiado lejos y las personas no me hayan reconocido la nave.
Si pienso que no tengo ningún amigo, me voy a poner tan mal que es mejor no direccionar mis pensamientos hacia eso: mejor pensar que ellos no son capaces de entenderme lo suficiente que pensar que no son mis amigos.
¿Qué me pasa a mí? Nada además de lo que siempre ha pasado: un vacío. Estar separado es un trago demasiado duro. Si no tuviera nada para, vez por otra, iluminar mi vida, no sé si estaría aquí, si tendría fuerzas para estar aquí. La vida perdió la gracia cuando perdí algo que pensaba ser eterno; estoy cansado de oír “la vida sigue”. Quizá tenerle rabia a todo sea mi manera de sacarlo adelante, yo qué sé…sólo pienso en lo injusto que es todo eso. No sé de quién es la culpa de que tengamos expectativas altas en la vida, pero ellas están allá. Descubrir que las cosas no más serán como uno lo esperaba es casi imposible de encarar.
Probablemente esté en el lugar equivocado a la hora equivocada, pero sería fácil resolverlo si las personas me dejasen, simplemente, ser lo que quiero ser en este momento. Estoy rodeado de gente que no entiende eso, entonces mejor estar solo. En esta lucha, inocentes acaban por hacerse daño: yo soy como un elefante, una ballena, no puedo retroceder la marcha e irme sin dejar algún vacío, molestia quizá, pero, real. Las personas tienen que entender que si quieren alguna oportunidad de relacionamiento duradero, que las cosas no están fáciles aquí dentro. Tengo un abismo para llevarme adonde vaya.
Por esos días he leído un mensaje de una amiga que decía, como que en una obra maestra de candidez:
- Eres una persona por la que tengo mucho cariño y te voy a molestar siempre que quiera, no importa la situación…
La verdad es que estábamos en una cierta sintonía porque nos habíamos conocido hacía poco y, al contrario de las personas que conocí hace más tiempo, no sentí, como pasó con las demás, que ella me pegara para que volviera a la normalidad. Siento que estoy siendo tratado, por los demás, como un “poseído” en plena Edad Media, en una interminable sesión de tortura, todo para que me ponga bien…no quiero eso. Esperaba que esta persona fuera diferente. Lo que quería de las otras personas es esa apertura para escucharme, para ver lo que tengo a decir, en lugar de oír todo el tiempo que estoy equivocado, que mi manera de ser es equivocada, que el tono es equivocado, que la forma es equivocada. No quiero que estén de acuerdo conmigo, pero tampoco que me machaquen.
Comunicación es una tarea difícil, ¿cómo saber si lo que interpretamos es lo que fue intencionalmente escrito?
Echo de menos ver la tele por la noche con la persona que he elegido para pasar el resto de mis días a mi lado. ¿Será tan difícil entender que no puedo estar “estable” como ellos exigen? No estoy listo para discutir pasiones imaginarias ni nada efémero, tengo carencias reales: sufro, siento dolor, me siento solo.
Voy a parar, ¡no quiero escribir más ahora mismo!
(Tiempo de silencio)
Es curioso, ya me peleé con mucha gente porque era así y no estoy en condiciones de garantizar que yo no lo sea. Lo que yo decía, hace mucho, sobre no necesitar más:
- Ya tengo todo lo que siempre he deseado.
Yo decía eso cuando me refería a mi propia vida: estaba casado, queriendo, siendo querido, con una vida maravillosa y, si no había dinero sobrando, tampoco me faltaba para lo básico, era algo yo he bautizado de “teoría de la patata frita”. Es más o menos eso:
- Supongamos que estén dando vueltas por el mundo, comiendo de todo y les esté gustando cosas así como a otras no. Digamos que un día se deparen con un plato de “sueño”, que les deje extasiados y completamente satisfechos. Puede que no sea la mejor cosa del mundo, puede que haya millones de cosas mucho mejores, pero si hay la sensación de haber encontrado algo “definitivo”, ¿para qué ir a por cosas diferentes? No, no soy ambicioso, ya he encontrado lo que me complace, ya tengo más de lo que jamás he imaginado que tendría un día, ya he encontrado la “patata frita” de mi vida. Puedo comer eso por lo que me queda de vida y siempre voy a querer más, no hay como “hartarse”. Nunca habré comido tanta patata frita como para que no quiera comer más y tenga que salir buscando otras cosas. Si salgo, es posible que encuentre cosas nuevas y buenas, pero, ¿para qué arriesgarme si la patata frita me da todo lo que quiero?
¿Sobre qué hablaba en la “teoría de la patata frita”? Hablaba sobre el matrimonio, relacionamientos, amigos, trabajo y sobre una cierta “incomodidad” que sentía por no ser “ambicioso”. Lo que les decía a las personas es que no era “ganancioso”, pero no podría decir que no fuera del todo ambicioso: tener un tesoro y querer mantenerlo para siempre no deja de ser un tipo de ambición. Lo que no entendía era la ganancia de los seres humanos por más tesoros, aunque ya poseyeran unos maravillosos. Eso no tenía sentido para mí.
Ahora todo ha cambiado: no tengo más patata frita, perdí todo lo que siempre he querido – una familia, alguien que me quería y hacia quien tenía satisfacción en agradar para demostrarle mi amor.
El momento pide reflexión, como: ¿hay la oportunidad de recuperarlo? Respuesta: no. Puedo tener otra familia, por supuesto, pero la que yo quería tanto jamás va a existir. Me parece un buen motivo para estar parado, en la lluvia, esperando la muerte por inanición: se ha muerto la esperanza, ¿qué nos quedará para movernos? Éste es mi momento. Estaba despistado, todo me parecía hermoso, flores por los campos, pajaritos, sol y mariposas; ahora creo que me he engañado, que nada existe, que no soy querido o comprendido y estaba viviendo una ilusión estúpida.
Saber que las cosas acaban no ayuda mucho, de ahí viene el trauma. Cuando estaba casado no pensaba que se podría acabar, ahora eso no me sale de la cabeza, por eso la tristeza…
Pasado un tiempo, todos tenemos expectativas y utilizamos aquello de “demostrar descontento” como una señal del que queremos para que el otro nos las atienda.
No quiero relacionarme con nadie, por ahora no soy capaz de entender pasiones, no me gusta relacionarme sin pasión, no quiero que sea así, no puedo pensar en cambiar y ser así y no creo que alguien pueda enamorarse sin convivir. Son mis creencias – equivocadas o no – sobre el tema. Aún estoy llorando mi separación, aún hay un enorme abisal a mis pies, ¿qué relacionamiento puedo tener yo con alguien? Sería difícil para los dos; para mí, que no me apetece convivir con nadie, y para la otra, que va a notar cómo echo de menos a Jan.
Me había acostumbrado a que Jan lo dijera todo, todo el tiempo. Jan era mi amiga e incluso en las cuestiones de celos, si le decía que alguien me despertaba deseos, por ejemplo, Jan intentaba verlo como algo positivo, intentaba ser lo más abierta posible y lo llevábamos bien. Lo resolvíamos todo juntos. Éramos amigos además de pareja. Eso es lo que extraño en las personas, no esconder que la empleada me pone cachondo no me parece motivo de reproche. Creo que las personas no están acostumbradas a decir la verdad las unas a las otras. Un sistema en el que todo lo que se pregunta sea contestado con sinceridad extrema no puede ser compatible con lo que las personas están acostumbradas o esperan de nosotros. Me fui acostumbrando a eso en los últimos años, pero ahora empiezo a darme cuenta que mi vida siempre ha estado rodeada, en los momentos buenos, de gente que se parecía a mí, a quienes les podía contar y oír de todo, y que estar cerca de personas que no quieren un comportamiento tan abierto me hace daño a la salud.
Yo digo “cosas ofensivas” hace mucho, y me veo siempre así, haciendo cosas que pueden hacer daño, ya que trabajo con lo que me parece ser “verdad” y eso genera antipatía , de acuerdo con el que le toca. Entonces sé que eso de “no agradarle a la gente” va a existir hasta el final de mi vida. Lo que no entiendo es cómo determinadas personas son capaces de comprenderme y otras, que me conocen hace tanto tiempo, no tienen ganas de hacerlo o la misma capacidad.
Soy paciente, claro, estoy en una fase “imbécil” y no me estoy portando como lo hago siempre. Estoy más sensible a todo, pero…normalmente no me importo que no les guste a los demás, es decir, a mucha gente nunca le ha gustado lo que hago. Estoy atrapado a algo que no se resuelve, un pequeño punto, pero que perturba mi vida.
Yo había empezado a llorar aquí en este punto, ayer, y no pude trabajar más. Después, pasé el día llorando y resolví “encerrarme para el mundo” de alguna manera como, haciendo algo que me gusta: explotando agujeros. Uno de los planes que tenía cuando decidí alejarme de las personas era justamente ése: hacer lo que tengo que hacer. Deprimido, pero trabajando, que es lo que uno debe hacer, ¿no?
Me acordé de un amigo, sucedió hace más de diez años, fui a visitarlo y me deparé con su departamento muy diferente. Su mujer me recibió, charlamos un poco, yo también era amigo de la mujer, y, después de un tiempo charlando, le pregunté por él y entonces me contestó:
- No estamos más juntos, él no vive más aquí.
Eso ha sido un choque…Algunas semanas después, cuando, finalmente estábamos él y yo hablando del tema, me dijo:
- Ella ha pintado todo, ha borrado todas las poesías, ¿verdad?
Él tenía, mientras estuvo casado, las paredes del departamento totalmente garabateadas con sus poesías y las de sus poetas favoritos.
Estábamos en un grupo de siete u ocho personas cuando eso pasó: todo el grupo se puso en silencio por unos instantes, había una cierta tristeza en las palabras de mi amigo. Entonces, lo interrumpí y dije:
- No, no es verdad que las poesías han sido borradas…ellas están allá, aunque debajo de la tinta.
A los demás les pareció gracioso, una sonrisa y un brillo surgieron en la mirada de mi amigo, como si dijera: “¡Gracias por haberlo dicho! ¡No lo había visto desde ese ángulo!”.
Sí, pero las personas son complicadas, no puedo decir que no le haya traicionado a Jan, aunque la cosa haya quedado “sólo” en el “casi”. No existe “sólo” y “casi”, Jan me estaba volviendo muy inseguro, peleas constantes, provocaciones y mencionaba algunas “pasiones” que estaba sintiendo (platónicas). Cada vez me sentía más excluido del matrimonio y, cierta vez, con cinco años de relacionamiento, me pasé una noche con otra. Aunque no haya pasado nada entre nosotros, eso cambió mi vida: decidí que iba a reconquistarle a Jan, que quería estar casado y empecé a ser más atencioso, más romántico, más emocional, más animal…Intenté rescatar poco a poco el inicio de nuestra relación y eso resultó, tuvimos una fase estupenda. Jan, sin embargo, no logró lo mismo cuando le tocó “decidir” nuestro futuro…Jan estaba teniendo una fuerte atracción por alguien de su trabajo y me decía que, a diferencia de mí, si tuviera la oportunidad que tuve, no la dejaría escapar, iba a “consumarlo”.
Bueno, créanme, eso es natural, aunque no en la intensidad que se demuestra: es normal ver a alguien en la tele y ponerse cachondo, es normal para una mujer soñar con un “galán” de la tele, es normal que un hombre se sienta atraído por otras personas en el día a día. El problema no está ahí; está en “sublimarlo”, fingiendo que no ha pasado nada (o incluso creyéndolo) o esconderlo “para no herir al otro” o cualquier otra alternativa enfermiza. La humanidad convive con eso siendo hipócrita, no significa que la atracción suceda todo el tiempo, pero a veces ocurre y, lo mejor a hacer es ser honesto el uno con el otro lo máximo que se pueda. Cuando estuve con otra persona, se lo conté a Jan en la misma noche lo ocurrido, y no podría haberlo hecho de otra forma; pero Jan ya había hecho algo parecido antes, hacía unos dos años de eso, entonces no debería haber sido tan importante: si Jan pudo superar los deseos de besarle a alguien, en dado momento, yo también podría hacerlo. El caso parecía superado, volvimos a “portarnos” como enamorados, pero, por supuesto, a la separación, todo reapareció. Jan se acordó de las veces que yo me había sentido atraído por otras personas y no de las veces que no había pasado nada. Es natural querer echarme la culpa por no gustarle más.
Pero, la traición no ha sido así, no lo “planeé”, se trataba de una persona del trabajo, era su cumpleaños, hubo una cena para colegas, las personas se fueran y me quedé para charlar…Yo había bebido, estaba carente, como suele pasar en diversos momentos de un relacionamiento, Jan me estaba tratando mal hacía semanas. La persona se puso insinuante, provocativa y, en lugar de encontrar a alguien para charlar, acabé por enredarme, durante unas horas, luchando contra mis deseos del momento. Pienso que aunque bajo los efectos del alcohol, me porté bien, no pasó de un beso que recibí y no lo recusé…Aunque loco de deseos no pasé de aquel beso. Jan, en aquella época, ya me dejaba confuso, hablaba de separación, que yo debería buscar a otra persona, que ya no tenía más ganas de pertenecer a un matrimonio. De alguna manera me sentí empujado, Jan fue la que insistió para que yo fuera a la fiesta, que me divirtiera. Cuando eso realmente pasó, el susto que me tomé me hizo recobrar la consciencia sobre lo que quería de verdad: aunque estuviera siendo paciente con los desentendimientos con Jan, decidí que me iba a esforzar mucho más, que yo no quería otra persona, por más seductora que fuera. Decidí reconquistarla teniendo el doble de paciencia, el doble de atención, rehaciendo cada cosita de manera especial, siendo más de lo que siempre había sido, incluso en los momentos buenos del inicio del matrimonio. No sé si eso no fue peor, si no lo estropeó todo – de cierta forma, Jan era quien tenía que haberlo hecho y no yo, era Jan quien me estaba perdiendo en aquel momento y “echándome” del matrimonio (ella está de acuerdo con eso, pero tiene explicaciones psicológicas complicadas, algo que ha traído de su familia, de su niñez). Yo sé que debería haberlo hecho antes de que hubiera pasado algo más serio, pero crean, cuando uno es joven – y siempre lo somos – no tiene experiencia, sólo la tenemos cuando ya no la podemos aplicar. Si yo supiera, al ir a la fiesta, que eso podría pasar, no habría ido, ¿qué remedio? Me equivoqué, soy humano. Pero no puedo echarle toda la culpa a un momento de debilidad que tuvo la influencia directa de Jan, si lo hago tendré que admitir que no podemos ser felices jamás en el universo: toda la gente se equivoca, y si no hay como volver al pasado, ¿cómo quedaremos todos? La frase “errar es humano” debe tener significado para todos, desde que haya aprendizaje, ¿no?
Considero un error haber ignorado las señales que demostraban que las cosas podrían llegar a ese punto. No me culpo, mi error fue subestimar que todo es posible, todo puede suceder (pensaba estar inmune a eso). Para la próxima vez estaré preparado, creo que no corro el riesgo de hacer como ciertas personas que aprueban su propia conducta o la repiten, diciéndose a sí mismos que nada pueden hacer. No pude hacer nada, pero de la próxima vez podré. Es tarde para tener influencia en mi matrimonio, pero no para un futuro relacionamiento.
No puedo confundir una de las crisis (hubo una al principio del matrimonio, otra a los dos años de casado, después todos los fines de año hasta la separación) con una crisis única, pues, cuando Jan se ponía en crisis a causa de su familia – el fin de año era una época terrible para ella – o en crisis profesional, Jan le echaba la culpa al matrimonio y a mí y yo era siempre paciente, esperaba a que pasara y todo volvía a la normalidad. Hubo una crisis seria en los dos últimos años, bueno, pero no lo puedo confundir con un alargamiento de una crisis de hace cinco años, o tendría que considerar otras crisis también en el recuento para decir que el matrimonio fue una crisis única desde el primer día…yo sé que traición es una falta imperdonable y que quizá eso haya sido la causa inconsciente de una no reconciliación al cabo de diez años, sin embargo, no creo en esa hipótesis, sería muy simplista de mi parte; hay que encontrar y conocer el contexto de cada crisis, de cada pelea o, entonces, habrá un reduccionismo a apenas un solo hecho…Ese momento de “debilidad” – traición – había sido construido hacía mucho tiempo, cuando, a los años de casado, de manera creciente, Jan me “empujaba”, puede que por alguna culpa en la consciencia, hacia fuera de la relación con peleas constantes y sin sentido. Talvez yo haya sido poco paciente, Jan siempre fue muy mimada, individualista, hija menor de una familia de seis hijos, fue acostumbrada a hacer siempre lo que quería y como quería y es posible que esa manera irresponsable de llevarse la vida lo haya empeorado todo, ni siempre fui paciente. Era en esas ocasiones de crisis que eso surgía, nunca sabré si, en esos momentos, la culpa era mía, por no haber sido todavía más paciente de lo que ya había sido o si eran momentos “inevitables”. De todas las formas, fueron varias las situaciones de crisis, no apenas una que se alargó.
No sé, hace más de diez años que no me enamoro…supongo que ahora sea más exigente, ya que no me enamoro más y he conocido a mucha gente.
Ahora soy solitario, no suelo ir a ningún lado, uno tiene que estar diez años casados para entender que los amigos de la pareja no son amigos de cada uno de los dos, es curioso, pero verdadero. Los viejos amigos solteros han desaparecido con el tiempo, incluso por el matrimonio. Los nuevos amigos son muy recientes y es difícil, me parece difícil que me adapte si no tengo al menos una compañía para hacer “programas de pareja”. Así que lo que me queda es una merienda a veces, cuando hay algún intervalo, como máximo, y es complicado transponer esta barrera. Soy un poco lento para hacer amigos. Generalmente llevo muchos años para llegar a un nivel de amistad que considere ideal.
Ese abismo hace pensar…
Vi una película titulada “En lo más crudo del crudo invierno”, básica, entretenida, perfecta…una película tan buena como un beso… Retrataba los problemas de un grupo de teatro, vi perfectamente todo lo que Jan vive, angustias, frustraciones, miedos, placer, éxito, reconocimiento, todo en la justa medida. La mejor película de teatro que ya he visto…Lloré un poco durante la película, un poco más después…Fui a trabajar, pero antes pasé en el videoclub y compré una copia de la película, compré para dársela a Jan, y después me acordé que no podía hacerlo, no era su amigo, ni nada, a Jan no le iba a gustar… Más tarde, aquí, me puse a pensar sobre eso de estar lejos de Jan: “desesperanza”. Me puse fatal, lloré, lloré mucho, hasta que me dormí.
No sé dónde poner mis besos, perdí la noción de lo que es desperdicio, pensé: “¿Para qué comprarle una copia de la película a Jan? Ella, probablemente, ya la habrá visto… ¿Será eso el desperdicio de un beso? ¿Querer darle cariño a alguien que ya no lo quiere?
Un día, una amiga me preguntó sobre el matrimonio, pues vio ese enorme vacío en mi vida, ese agujero en el suelo, y pensó que el matrimonio debía de ser una cosa muy mala y que yo, probablemente, creía que ella no debería casarse.
- ¿El matrimonio no ha valido la pena?
Sé que ha valido la pena, por supuesto. En un cuestionario, hace poco tiempo, había un espacio para completar que decía:
- ¿Cuál ha sido la mejor cosa que has hecho en la vida?
Y mi respuesta, prontamente, fue:
- ¡Casarme!
El matrimonio es como helado. Es como chocolate. Es… ¡estupendo!
Jamás voy a negar que el matrimonio es maravilloso, todo mi estado de tristeza y depresión es por mi matrimonio haber sido la mejor época de mi vida, si hubiera sido mala, estaría bien con la separación, me habría recuperado más rápido. El problema es: ¿Quién se va a encajar en mi vida tan perfectamente como Jan? ¿Quién me va a despertar deseos cada vez que la vea aún después de tantos años? ¿Quién me va a dejar orgulloso para que la pueda admirar sin hesitación? ¿Quién me va a completar en tantas cosas como Jan lo hacía? No es la “persona” es el “relacionamiento” que me pone deprimido: si alguien que tenía tanto que ver con mi vida, cosa tan rara, no ha durado casi nada como pareja, apenas diez años, imagino cual la posibilidad que tendría de ser feliz con las demás personas que estoy conociendo y que no se encajan en mi manera de ser, pensar, sentir, actuar…
Todo eso me deja una sensación de impotencia ante el destino, de incapacidad de ser feliz con alguien otra vez, de incapacidad para librarme de un abismo…Hace con que vea que mis mejores oportunidades de volver a vivir es estar completamente solo. La impresión es que ya viví toda mi cuota de felicidad posible, que ni más haría falta supervivir por aquí; pero todo eso no es nada, esa tristeza inmensa no es nada comparada a la felicidad que tuve, entonces, jamás podría decir: “no te cases”. Yo digo: Cásate, sé feliz, vive plenamente y cuida todos los pequeños momentos, como lo hice yo, para que no te olvides de nada, pues, si dura poco, como me ha pasado a mí, aún así habrá valido la pena.
Sí, pero: “tras el llanto viene siempre la bonanza”…
Yo podría pegar aquí aquellas frases de los diarios de las niñas que dicen:
- Sonríe, aunque sea una sonrisa triste, porque más triste que una sonrisa triste, es la tristeza de no saber sonreír.
Pero eso es una gran tontería, por supuesto. Mejor llorar mucho, convivir con esas obligaciones que no nos gustan, yo también tenía que hacer algo otro día y me quedé durmiendo, escondido, con miedo. Y comer hígado es una mierda…si la vida es hígado, mejor no comerla.
¿Y si estamos equivocados? Quizá no sea hígado, sea helado, ¡y no nos hemos dado cuenta! Como dije en otro momento, me quedé aquí con un beso a ser dado y sin una boca, porque mi deseo se moría conmigo, la boca de Jan venía a mi mente y no más estaba aquí…Pero, ¡a ver! Yo tenía la película, “En lo más crudo del crudo invierno”, en mis manos y se la llevé a Jan, puesto que iba a pasar cerca de allí…le pregunté, cuando llegué, si Jan la conocía y me dijo:
- ¡Sí! ¡Esta película es maravillosa! ¡Es increíble!
Entonces le dije:
- Es para ti…un regalo. Cuando la vi me acordé de ti y pienso que debe ser tuya.
Jan me abrazó y lo agradeció contenta. Así que, aunque sin boca, el beso ha sido dado, ¿no les parece? Yo estoy contento con el gesto, Jan está feliz con la vida, estamos todos felices dentro de lo que es posible…Es bueno poder dar un beso de corazón y que alguien a quien queremos reciba ese beso de corazón…abierto.
Pues, es eso, quizá la vida sea hígado, algunos nacen gustándoles esa porquería asquerosa, son como aquellas personas que están siempre sonriendo, bellas, la vida llena de sol, pajaritos en la ventana, mariposas…y hay otras personas que odian el hígado, que entre tener que comerlo, sentir su olor desagradable o morir, prefieren no vivir. También hay el caso intermediario, la mayoría: personas que no odian el hígado, simplemente no les gusta mucho o nunca lo han probado.
Caso tengan que comer hígado algún día, échenle mucha sazón, cebolla, ajo o algo que les guste mucho y que le quite el sabor malo a la carne…el gran descubrimiento de la vida está ahí: tomar la vida, que sabe mal, con un montón de patatas fritas y todo lo que haya de bueno para distraernos de aquel olor y sabor horribles.
Spanish to Portuguese: Política de lucha o política de desarrollo General field: Other Detailed field: Journalism
Source text - Spanish Política de lucha o política de desarrollo
Una manera de comprender el reclamo que ganó la calle de manera sorprendente hace unos días , y que promete volver a ganarla bajo el mismo espíritu en los próximos, es observar el sentido de la política desde dos puntos de vista distintos y opuestos.
Hay una política de “lucha” y una política de “crecimiento” o “desarrollo”. Cada una de estas ideas encarnan distintas visiones del mundo y distintas posiciones existenciales. La calle reclama que la lucha deje paso a la sensatez del desarrollo y el respeto a la ley. ¿Qué implican cada una de estas visiones?
Si uno cree que la política es lucha centra su mirada en el enemigo. O en los muchos enemigos que necesita recrear constantemente para alimentar su estructura de sentido. La tarea es enfrentarlos y vencerlos. El día se organiza a partir del odio o del resentimiento, las horas pasan inventando trampas o trucos para debilitar a los detestados.
Si uno cree en cambio que la política es una forma de implementar el desarrollo necesario, tiene como tarea organizar situaciones para que los recursos puedan aprovecharse de la mejor manera posible. Busca gestionar para optimizar resultados. Quiere que la mayor parte de las personas disfruten de la mejor situación que el talento organizativo permita alcanzar. El desarrollo es el arte de la realización y no se trata en él tanto de utopías y de sueños como de planes y proyectos. El simbolismo adorado por la lucha deja paso a las complejas realidades que es necesario administrar.
En la política de la lucha, los recursos se ponen a disposición de la batalla mental que obsesiona todo pensamiento. El uso y abuso de los mismos está justificado en función del mal que se describe constantemente en el otro, al que se considera corrupto. No es en cambio considerada corrupción ese uso justiciero de los recursos, por más que implique un evidente aprovechamiento de lo público. Se cree que la lucha contra el mal justifica esos apartamientos de la ley. La política de la lucha avala la moral del delincuente, al que se siente cercano y con cuya victimización se identifica, despreciando a los que han sido atacados por estos como si fueran mezquinos protectores de algo que en el fondo no debieran poseer.
Translation - Portuguese Política de luta ou política de desenvolvimento
Uma forma de compreender as reivindicações que ganharam as ruas de maneira surpreendente há alguns dias, e que prometem voltar a ganhá-la com o mesmo espírito nos próximos, é observar o sentido da política a partir de dois pontos de vista diferentes e opostos.
Há uma política de “luta” e uma política de “crescimento” ou “desenvolvimento”. Cada uma dessas ideias representa visões diferentes do mundo e diferentes posições existenciais. A rua reivindica que a luta dê lugar à sensatez do desenvolvimento e o respeito à lei. Quais são as implicações de cada uma dessas visões?
Ao acreditar que a política é luta, a atenção se centra no inimigo. Ou nos muitos inimigos que precisa recriar constantemente para alimentar sua estrutura de sentido. A missão é enfrentá-los e vencê-los. O dia é organizado a partir do ódio ou do ressentimento, as horas são passadas inventando armadilhas ou truques para enfraquecer os odiados.
Ao acreditar, no entanto, que a política é uma forma de promover o desenvolvimento necessário, a missão é organizar situações para que os recursos possam ser aproveitados da melhor maneira possível. Tenta-se gerenciar para otimizar resultados. Há o desejo de que a maior parte das pessoas se beneficie da situação que o talento organizacional permita alcançar. O desenvolvimento é a arte da realização e ele não trata tanto de utopias e de sonhos quanto de planos e projetos. O simbolismo adorado pela luta dá lugar às complexas realidades que precisam ser administradas.
Na política da luta, os recursos são colocados à disposição da batalha mental que assombra todo o pensamento. O uso e o abuso dos mesmos se justificam em função do mal descrito constantemente no outro, que é considerado corrupto. Não se considera, porém, corrupção esse uso justiceiro dos recursos, por mais que implique um evidente aproveitamento daquilo que é público. Acredita-se que a luta contra o mal justifica esses desvios da lei. A política de luta avaliza a moral do delinquente, de quem se sente próximo, havendo uma identificação com a vitimização do mesmo e desprezando os que foram atacados como se estes últimos fossem protetores de algo que no fundo não deveriam possuir.
More
Less
Translation education
Graduate diploma - Letras - português/espanhol
Experience
Years of experience: 15. Registered at ProZ.com: Feb 2011.
Credentials
Spanish (Institute Cervantes, verified) Spanish (Faculdade COC, verified) Portuguese (Faculdade COC, verified) Portuguese to Spanish (Diplomas of Spanish as a Foreign Language) Spanish to Portuguese (Diplomas of Spanish as a Foreign Language)
Spanish to Portuguese (Estácio de Sá, UNESA) English (International English Language Testing System, verified) English to Portuguese (International English Language Testing System) Spanish to Portuguese (Associação Brasileira de Tradutores)
A large experience in the Spanish language obtained living in different regions of Spain between 1999 and 2007 (Galicia, Andalusia, and Extremadura), where attended high school and gained fluency.
Two international proficiency certificates: DELE (Superior C2 - 2008, University of Salamanca and Cervantes Institute) and IELTS (C1, Overall Band Score 7, 2016, University of Cambridge).
Bachelor of Arts in Languages, Literatures, and Cultures with a Major in Spanish and Portuguese (UNISEB, Brazil, 2008-2010).
Graduate Degree in Teaching of Spanish Language (University Estácio de Sá, Brazil, 2013-2015)
Seven years of experience as a freelance translator: translation, subtitling, proofreading, audio transcription and adaptation of texts from European Portuguese into Brazilian Portuguese projects.
CAT tools: Wordfast (Classic and Anywhere), Subtitle Workshop, OmegaT, Across and memoQ.
Soy traductora independiente desde hace siete años y realizo proyectos de traducción, transcripciones de audio, adaptaciones del portugués europeo al brasileño y subtítulos para seriales y telenovelas.
Mis pares lingüísticos son: español>portugués brasileño, portugués brasileño>español ibérico, inglés>portugués brasileño, gallego>portugués brasileño y portugués europeo>portugués brasileño.
Soy licenciada en Letras (portugués/español) y posgrado en enseñanza de la lengua española aplicada a las nuevas tecnologías. Residí en diversas regiones de España durante siete años (Galicia, Salamanca, Extremadura y Andalucía), además de un año en Portugal.
Tengo los siguientes certificados de proficiencia: D.E.L.E. (Superior C2 - 2008, Instituto Cervantes y Universidad de Salamanca) y Certificado de proficiencia en inglés IELTS (C1, Overall Band Score 7, 2016, University of Cambridge).
Utilizo las siguientes CAT tools: Wordfast (Classic y Anywhere), Subtitle Workshop, OmegaT, Across y memoQ.
Realizo projetos de tradução e revisão, versões, transcrições de áudio, adaptações de textos do português europeu ao brasileiro e legendas para novelas e séries há sete anos como tradutora freelancer.
Tenho licenciatura em Letras (espanhol e português), proficiência internacional em espanhol (DELE, C2, Universidade de Salamanca e Instituto Cervantes, 2008), certificado de proficiência em inglês IELTS (C1, Overall Band Score 7, 2016, University of Cambridge) e pós-graduação em Ensino da Língua Espanhola pela Universidade Estácio de Sá. Residi durante sete anos em diversas regiões da Espanha onde cursei o Ensino Médio. Também morei por um ano na cidade de Póvoa de Varzim, Porto, Portugal.
Minha língua materna é o português (brasileiro) e os meus pares linguísticos são: espanhol>português-BR / português brasileiro>espanhol/ inglês>português brasileiro/ galego>português brasileiro / português europeu>português brasileiro.
Tenho maior experiência nas seguintes áreas: Turismo, Jornalismo, Publicidade e Marketing, Educação e TI.
Utilizo as seguintes ferramentas de tradução: Wordfast (Classic e Anywhere), Across, Subtitle Workshop, OmegaT e memoQ.