Entrei no mundo da tradução relativamente tarde, então um dos meus maiores aliados na profissão é a minha experiência de vida anterior.
Quando me mudei para o Brasil em 2003, deixei para trás uma carreira de 12 anos com a Polícia do Reino Unido, durante a qual passei vários anos como detetive investigando crimes graves. Até hoje só consigo enfrentar os trabalhos de tradução ¬¬¬- desde os pequenos e simples até os grandes e complexos – de forma semelhante à investigação de um crime.
Para mim, a similaridade está no fato de que nas duas profissões você frequentemente se depara com um enigma a ser solucionado – e as suas ações vão lhe diferenciar como um tradutor/detetive competente e meticuloso ou não.
“Dados, dados, dados!Não posso fazer tijolos sem barro!”clama o famoso Sherlock Holmes em O Signo dos Quatro. Da mesma forma, o bom detetive da tradução tem ferramentas de pesquisa confiáveis à sua disposição. Caso se trate de um texto especializado e mais técnico, ele deve ter bom conhecimento do assunto e, assim como o bom investigador se mantém informado da legislação criminal e práticas criminais mais recentes, o tradutor também deve se esforçar para garantir que está atualizado em termos de regulamentos, padrões, procedimentos e normas relativas ao material.
Não se trata somente de ter os glossários certos e saber como usar da melhor forma as ferramentas de pesquisa. O bom detetive da tradução também tem uma mente aberta para possíveis “linhas de investigação” alternativas. Portanto, o que no início parecia ser uma tradução fácil e generalista é na verdade uma oportunidade para excelência.
O bom detetive da tradução lê, assiste e ouve a maior quantidade possível de materiais para ter em mente expressões, frases e combinações de palavras; ele utiliza um dicionário de sinônimos para evitar a repetição das mesmas soluções, porém sempre pensando no leitor e se esforçando para oferecer as soluções mais fáceis de ler e mais adequadas, é claro.
Finalmente, nunca é demais enfatizar a importância de ter informantes – como detetive eu tinha vários que me davam informações sobre criminosos e suas atividades – e o mesmo se aplica ao bom detetive da tradução.Tenho familiares e conhecidos que trabalham em várias áreas diferentes de conhecimento em várias partes do mundo. Portanto, ligo para o meu informante especialista em TI Português quando tenho um trabalho de TI em português europeu; posso pedir para minha prima nos Estados Unidos – funcionária pública do governo federal – confirmar um coloquialismo se estiver trabalhando com o inglês dos EUA, e por aí vai.
O bom detetive criminal é sempre curioso e mantém uma mente aberta, fazendo o trabalho necessário para garantir que irá apresentar a solução mais completa e irrefutável para o caso que lhe foi confiado.
O bom tradutor também.
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